Viva o cinema brasileiro!
A excelente safra de filmes 2024/2025
O cinema brasileiro vive um momento excepcional. O cinema condensa a vitalidade cultural de um povo, de um país. Por um motivo simples: nele reside o espaço de convergência de todas as outras formas de arte. Literatura, música, teatro, arquitetura, artes plásticas, escultura e dança se encontram no cinema.
Assistir a um bom filme na sala escura transforma consciências e atitudes, desperta emoções inimagináveis, alimenta fantasias. Apesar de o cinema brasileiro carregar o nosso DNA, refletindo nossa originalidade e identidade nacional, é também universal pelos sentimentos humanos que reflete e desperta.
Oscar inédito
A ótima safra 2024/2025 é capitaneada pelo excelente “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles Jr. e com o magistral desempenho de Fernanda Torres, escoltada por excepcional elenco. O filme já foi cantado em versos e prosa. Sucesso de público e crítica, culminou com a conquista inédita do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Nos fez mergulhar nos terríveis e dramáticos anos de ditadura, nos relembrando que brasileiros resistiram, sofreram e venceram. Mergulhar naquelas cenas nos fez reavivar o compromisso: democracia sempre! Ditadura nunca mais!
No mesmo nível veio “Malu”, de Pedro Freire. Uma artista de teatro, que carrega as fantasias e utopias da geração de 68, sonha em montar um centro cultural numa comunidade da periferia do Rio de Janeiro, e, em paralelo, enfrenta o difícil convívio com a mãe e a filha, refletindo diferentes perspectivas de três gerações. Yara de Novaes, Carol Duarte, Juliana Cunha e Átila Bee nos brindam com interpretações fantásticas, plenas de sensibilidade e emoção.
Manas
Mais recente estreou “Homem com H”, de Esmir Filho, que nos faz viver por dentro a biografia e a trajetória de um dos nossos maiores artistas e cantores, Ney Matogrosso, trazendo à tona a travessia de uma geração que lutou contra preconceitos, perseguiu um horizonte libertário e enfrentou a censura, a discriminação e a aids. A mobilização de nossas emoções é magnetizada por um desempenho indescritível de Jesuíta Barbosa.
Agora, chegou ao cinema o maravilhoso “Manas”, da diretora Marianna Brennand Fortes. Uma história comovente ambientada no Brasil profundo, na recôndita floresta da Ilha de Marajó, revelando os dramas, os limites e os sonhos das mulheres ribeirinhas que enfrentam abusos sexuais na infância e na adolescência, a partir de suas próprias casas. Uma linda e sensível atuação de Dira Paes se dá cercada por atores paraenses, alguns em sua primeira atuação. A atriz estreante Jamilli Correa, de apenas 16 anos, não só tem um futuro brilhante, como já construiu em “Manas” um presente exuberante.
Apoio público
Paralelo à trajetória de “Ainda Estou Aqui”, outro ótimo filme teve sua carreira desencadeada, “Motel Destino”, de Karim Ainouz, que retrata a história de um jovem pobre foragido do crime organizado que chega a um motel decadente e vive uma tensa e tórrida relação com o casal proprietário. Três desempenhos fantásticos de Iago Xavier, Nataly Rocha e o veterano Fábio Assunção, que tem seu melhor momento no cinema.
Isso, sem falar em “Auto da Compadecida II”, “Estômago II”, entre outros. E aí vem “O Agente Secreto”. A indústria cinematográfica no mundo inteiro, exceto Hollywood, depende de apoio do poder público. Oxalá os governos tenham sempre clareza disso e não matem o fantástico potencial do cinema brasileiro.