GOVERNO DE MINAS

Presidente alega falta de agenda, e Funed não recebe premiação do governo Lula

Fundação Ezequiel Dias, ligada ao governo de Minas, receberia Ordem Nacional do Mérito Científico

Por Gabriel Ronan
Publicado em 14 de julho de 2023 | 16:21

A Fundação Ezequiel Dias (Funed), vinculada ao governo de Minas Gerais e braço público responsável pela vigilância epidemiológica e produção de medicamentos e soros, deixou de receber uma honraria do governo federal nesta semana por uma alegada “falta de agenda”. Convocada para receber a Ordem Nacional do Mérito Científico em cerimônia em Brasília, a Funed não mandou representantes. A premiação foi entregue pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em conversa com a reportagem, o presidente da Funed Felipe Attiê disse que uma visita ao Instituto Butantan, em São Paulo, impediu a presença no evento do governo federal. “Estou em negociação para isso há dois meses. Eu tive que falar com o Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo pelo Republicanos) e os diretores para que a gente pudesse entender como é a produção de biológicos e das vacinas. Eu fiz uma imersão de dois dias. Não tinha como eu deixar de fazer isso para receber o prêmio que chegou (o convite) na véspera. Esse povo faz tempestade em copo d’água”, afirmou.

Professores, pesquisadores e entidades receberam a honraria das mãos de Lula. Entre os órgãos públicos estão a Academia Nacional de Medicina (ANM), a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e o Museu Paraense Emílio Goeldi. Um ofício, enviado por Attiê à reportagem, mostra que o convite para o evento foi feito nessa segunda-feira (10/7), dois dias antes da premiação, pela ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.

Ainda assim, a decisão de Attiê repercutiu mal entre os servidores da Funed, a partir de uma série de divergências entre as partes desde que o ex-deputado estadual assumiu a presidência. “A Funed recebeu o convite por sua história na contribuição à ciência e à tecnologia. Mas, a presidência se recusou a receber esse prêmio, demonstrando, mais uma vez, que não está do nosso lado. Ele tem vindo à imprensa para detonar a Fundação Ezequiel Dias", diz Érico Colen, diretor do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG) e servidor da fundação há 17 anos. 

Assembleia dificultada

Diante dos ruídos entre os funcionários públicos da Funed e Felipe Attiê, uma assembleia dos servidores que aconteceria às 13h desta sexta-feira (14/7) no auditório da fundação precisou ar por alterações. O diretor do Sind-Saúde/MG Érico Colen alega que foi impedido de entrar nas dependências do equipamento público, apesar de trabalhar nele. Com isso, a reunião aconteceu com ele do lado de fora, conversando com os servidores pela grade.

“A presidência da Funed não autorizou fazer a Assembleia. Não me autorizou fazer em outro lugar. Estou aqui com vários panfletos, impressões e cartas de repúdio à presidência pelas ações que eles têm tomado de desmonte da fundação. Estão desmontando a engenharia e vários setores", afirma Érico. 

A reportagem questionou Felipe Attiê sobre a assembleia dos servidores. Ele disse que não havia disponibilidade do auditório para a realização da reunião. "Hoje, tínhamos uma reunião da assessoria de comunicação para conversar sobre os 116 anos da Funed, que serão comemorados em agosto. O sindicato tem que entender que nós vamos seguir a lei. Não podemos ter uma assembleia dentro da estrutura da Funed no meio do horário de serviço. Ele está afastado para exercer o trabalho sindical. Mas, quer ter uma carteirinha para entrar e sair da fundação em qualquer hora. Eu recebo ele bem aqui, mas ele quer chegar e arrebentar com tudo"

Em entrevista exclusiva a O TEMPO em maio, o presidente da Funed disse que aposta em parcerias público-privadas para retomar investimentos na estrutura. A intenção dele é fazer profundas mudanças na entidade para otimizar os resultados. “Temos um processo de compra que leva entre quatro e nove meses, que inviabiliza uma istração eficiente aqui. Além disso, eu não tenho Procuradoria fixa. Então, dependo da Advocacia Geral do Estado. É um fluxograma surreal. Se eu colocasse ele aqui impresso, daria mais de cinco metros de papel para comprar um insumo da Europa”, disse à época.