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Bomba destrói parte da casa alugada por autor do atentado ao STF; no local havia mensagens sobre o 8/1
Artefato explodiu quando policiais federais buscavam provas em investigação sobre as explosões na área central de Brasília
BRASÍLIA - O imóvel alugado em Ceilândia (DF) pelo homem apontado como o responsável pelas explosões na área central de Brasília quarta-feira (13) tinha farta quantidade de artefatos explosivos. Um deles explodiu na manhã desta quinta (14), quando policiais federais lá estiveram. Móveis e parte do telhado foram destruídos.
O episódio foi relatado pelo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, em entrevista coletiva iniciada no fim da manhã desta quinta. Ele ressaltou que vidas de policiais foram poupadas porque o compartimento onde estava a bomba foi aberta por um robô antibombas da PF.
“Felizmente, utilizamos a boa doutrina da nossa instituição e da Polícia Militar também para fazer entrada nesse tipo de ambiente. E entramos com o robô, nosso robô antibombas. Entramos na residência, o robô entrou na residência e a ato contínuo ao abrir uma gaveta para fazer a busca, houve uma explosão, uma explosão gravíssima. Salvou a vida de alguns policiais que se tivessem ingressado na residência, certamente não sobreviveriam àquela intensidade da explosão”, disse Andrei Rodrigues.
O diretor-geral da PF contou ainda que, no imóvel de Ceilândia, havia inscrições nas paredes e em um espelho que faziam alusão a uma pichação dos atos de 8 de janeiro de 2023. No espelho do banheiro está escrito com batom o nome de Débora Rodrigues, mulher que pichou a estátua da Justiça. “Por favor, não desperdice batom! Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT”, diz o texto.
“É importante dizer que não é só um ato de pichação, é um ato gravíssimo contra o Estado Democrático de Direito – esta pessoa (que fez a pichação) está presa até o presente momento – e que mostra essa vinculação desses grupos radicais que culmina nesta barbárie de ontem na tentativa de matar ministros da Suprema Corte e no lamentável episódio do suicídio dessa pessoa”, afirmou o diretor-geral da PF.
Andrei Rodrigues ressaltou que investigações apontam que seguem ativos grupos extremistas responsáveis por atos similares desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas contra Jair Bolsonaro (PL). Entre os atos estão o atentado a bomba no aeroporto de Brasília na véspera de Natal de 2022 e a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, também na capital, em 8 de janeiro de 2023.
“Quero fazer um registro da gravidade dessa situação que nós enfrentamos ontem. Que apontam que esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica. Não só a Polícia Federal, mas todo o sistema da Justiça Federal. Entendemos que o episódio de ontem não é um fato isolado, mas conectado com várias outras ações”, disse.
Ex-mulher diz que homem morto com bomba participou de acampamento
Equipe da PF em Santa Catarina esteve na manhã desta quinta-feira em endereços de Francisco Wanderley Luiz, o homem de 59 anos que morreu após explosões na área central de Brasília na noite de quarta. Ele teria se matado após ser impedido de entrar no Supremo Tribunal Federal (STF). Agentes apreenderam um telefone celular e pendrives, em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí.
Na cidade catarinense, policiais federais também localizaram a ex-mulher dele, que foi levada para depor. Ela contou aos investigadores que esteve com Francisco em acampamentos em frente a quartéis do Exército, em Santa Catarina, para pedir intervenção militar e manutenção de Bolsonaro no poder, após vitória de Lula em 2022.
Agentes filmaram a conversa com a mulher em frente à casa de madeira onde ela mora. O vídeo foi exibido pela Globonews. Ela também disse aos agentes que Francisco já havia anunciado planos de atentado em Brasília, mirando o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Segundo ela, o ex-marido deixou claro que ia para Brasília matar o magistrado. E, caso não conseguisse entrar no prédio do Supremo, se mataria – como acabou fazendo, após ser barrado por seguranças da Corte.
A mulher contou ainda que decidiu acabar o casamento justamente por causa do extremismo de Francisco. Ele deixou Rio do Sul em julho dizendo que viajaria a eio, mas nunca mais voltou. Investigadores de Brasília descobriram que ele alugou uma quitinete em Ceilândia, a 30km da Praça dos Três Poderes, no mesmo mês. Policiais estiveram no endereço na noite de quarta e na manhã desta quinta. Encontraram explosivos.
Pouco antes das explosões de quarta, Francisco publicou em suas redes sociais anúncios de atentado na capital federal que durariam até sábado (16). Nos cinco meses no Distrito Federal, Francisco esteve no Congresso Nacional e no STF. Ele foi ao plenário do Supremo e ao gabinete do deputado federal Jorge Goetten (Republicanos). Em seu perfil no Facebook, Francisco reproduzia teorias conspiratórias anticomunistas como o QAnon, populares na extrema direita norte-americana.
A ida dele ao STF ocorreu em agosto. Ele participou de uma visita guiada, oferecida a turistas. Pouco antes do atentado, publicou nas redes sociais uma foto dentro da Corte e escreveu que haviam deixado “a raposa entrar no galinheiro”. Já Goetten disse em entrevista, também quarta, que conhecia Francisco há mais de 30 anos, e que nas visitas dele ao gabinete ambos falaram do ado. Segundo ele, a última agem do chaveiro pelo gabinete ocorreu em agosto deste ano.
Investigadores disseram que mensagens no WhatsApp indicam que ele planejou o atentado à bomba. “Algumas delas [mensagens] têm conteúdo que antecipavam o ocorrido no dia de hoje, manifestando previamente a intenção do autor em praticar o autoextermínio e o atentado a bomba contra pessoas e instituições”, diz trecho da ocorrência registrada pela Polícia Civil do Distrito Federal ainda na noite de quarta, após ouvir testemunhas e policiais que estiveram no local do atentado.
Francisco Luiz mantinha um estabelecimento onde oferecia serviços de chaveiro, em Rio do Sul. Policiais federais estiveram lá no início da manhã desta quarta. Este é o mesmo endereço informado por Francisco à Justiça Eleitoral quando concorreu a vereador pelo PL, na eleição municipal de 2020. Seu nome de urna era Tiü França, como era mais conhecido na cidade.
Ainda na declaração à Justiça Eleitoral, Francisco comunicou ter R$ 263 mil em bens em 2022, incluindo uma moto, três carros e um prédio residencial. Já a PF levantou que ele responde processo por ter feito uma festa durante a pandemia, desrespeitando as restrições sanitárias contra a Covid-19.
Testemunha narra ataque e câmera filma do STF cena
Testemunha do atentado na noite de quarta-feira, um segurança do STF contou, em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, detalhes dos últimos momentos de Francisco Wanderley Luiz, que detonou explosivos e morreu em frente ao edifício-sede do tribunal.
Natanael da Silva Camelo, o segurança do STF, afirmou ter sido a última pessoa a abordar o homem antes da explosão fatal. Equipe de O TEMPO em Brasília teve o a cópia da ocorrência da Polícia Civil com o depoimento de Natanael. Também conseguiu vídeo do circuito do STF que mostra a investida de Francisco Luiz.
Confira a seguir o o a o dos últimos atos do catarinense Francisco Luiz no centro do poder nacional:
- Aos agentes, o segurança disse que Francisco se aproximou da estátua da Justiça, colocou uma mochila no chão, retirou uma blusa e a arremessou na direção da estátua.
- Natanael contou que ele e outros seguranças chegaram perto e Francisco mostrou artefatos em seu corpo. “O indivíduo abriu a camisa e os advertiu para não se aproximarem”, diz trecho da ocorrência.
- O segurança do STF contou ainda que o homem estava com uma mochila, de onde tirou uma blusa, alguns artefatos e um extintor. Ele também carregava uma espécie de detonador.
- A testemunha relatou também que Francisco disparou “dois ou três artefatos” antes de se deitar no chão e detonar uma das bombas. Imagem de uma das câmeras do STF mostra ele lançando os artefatos com fogo.
- “Na lateral, o indivíduo deitou no chão, acendeu o último artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão”, conclui o registro.
Bope encontra bombas e timer em cinto e mochila junto a corpo
Na madrugada desta quinta-feira, policiais encontraram no corpo de Francisco Luiz um cinto com mais artefatos e um timer – ou temporizador. Ele ainda carregava uma mochila com pino detonador em um pequeno extintor, que seria usado como bomba.
O corpo, que continuava no local até a manhã desta quinta-feira , justamente por causa do risco de conter mais explosivos, foi examinado por homens do esquadrão antibomba do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, com ajuda de um robô e de equipamentos para detecção de potenciais objetos de risco.
Os peritos do Bope retiraram os objetos suspeitos e os detonaram em outro ponto da praça, perto do corpo. Houve quatro explosões provocadas pelo Bope no início da manhã. A região central de Brasília amanheceu com forte esquema de segurança e a Esplanada dos Ministérios fechada ao trânsito, em função do atentado.
O corpo foi retirado e levado para o Instituto de Medicina Legal (IML) por volta das 9h, após o Bope decretar fim de varredura na Praça dos Três Poderes. Mas policiais continuavam checando outros pontos próximos.
Investigadores apontam ‘motivação política’
O veículo que explodiu a menos de 500 metros da sede do STF é um Kia Shuma, registrado em Rio do Sul. Está em nome de Francisco Luiz. Agentes contaram que ele morreu vestindo um terno e calça verde com estampas de naipes de cartas de baralho e usava um chapéu branco. A vestimenta remete à fantasia do personagem Coringa, vilão das histórias em quadrinhos.
A Polícia Civil confirmou que o carro explodido próximo à Câmara dos Deputados pertencia ao homem que morreu atingido por um artefato em frente ao STF. Agentes citam na ocorrência que ele pode ter agido por motivações políticas. “[Foi] possível identificar uma possível motivação, tendo em vista o conteúdo político de postagens no perfil dele em suas redes sociais”, diz o boletim de ocorrência.
Explosões ocorreram minutos após fim de sessão no STF
Duas fortes explosões foram ouvidas na Praça dos Três Poderes por volta das 19h30 de quarta-feira. Elas ocorreram em volta do edifício-sede do STF, logo após o fim da sessão na Corte.
As explosões ocorreram com pouco mais de um minuto de intervalo. Uma envolveu um carro na via em frente ao anexo IV da Câmara, ao lado do STF. A outra ocorreu no meio da Praça dos Três Poderes, onde fica o STF, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.
O estrondo forte foi ouvido no Palácio do Planalto e prédios próximos, como o Congresso, com muita fumaça. As forças de segurança do Distrito Federal tratam o caso como um possível atentado. A PF informou, por meio de nota, que também investiga as explosões e um inquérito policial será instaurado para apurar os ataques.
"Foram acionados policiais do Comando de Operações Táticas (COT), do Grupo de Pronta-Intervenção da Superintendência Regional da PF no Distrito Federal, peritos e o Grupo Antibombas da instituição, que estão conduzindo as ações iniciais de segurança e análise do local", diz a nota.
No momento das explosões, os ministros do Supremo foram retirados em segurança do prédio, que foi evacuado. “Ao final da sessão do STF desta quarta-feira (13), dois fortes estrondos foram ouvidos e os ministros foram retirados do prédio em segurança”, diz nota do tribunal. “Os servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela”, completa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não estava no Palácio do Planalto, sede do governo federal, no momento das explosões. O palácio reforçou a segurança após as explosões. Após cerca de uma hora dos estrondos, a sessão da Câmara dos Deputados foi interrompida. Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiu manter a sessão na noite desta quarta.