DIAS ANTES DE OPERAÇÃO DA PF

Em abril, então presidente do INSS disse ao Congresso que não havia indício de fraude nos descontos

Alessandro Stefanutto foi afastado do cargo pela Justiça e, em seguida, demitido pelo presidente Lula

Por O Tempo Brasília
Publicado em 10 de maio de 2025 | 10:47

BRASÍLIA - Em manifestação enviada à Câmara, o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, afirmou, em abril, que não era possível "identificar indício de dolo, fraude ou erro istrativo em relação a possíveis descontos indevidos" em benefícios pagos pelo órgão.  

A resposta foi dada a um pedido de informação apresentado pela deputada Júlia Zanatta (PL-SC), assinada em 7 de abril por Stefanutto, mas enviada ao Congresso pelo Ministério da Previdência Social apenas esta semana. A Operação Sem Desconto, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), que revelou o esquema foi deflagrada no dia 23 de abril. 

No pedido de informação, a parlamentar destacava "denúncias sobre a realização de descontos indevidos em benefícios pagos pelo INSS, incluindo aposentadorias e pensões" e mencionava reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, sobre o tema, publicada em novembro do ano ado. 

Segundo Stefanutto, ainda estavam em andamento os "processos de verificação extraordinária" nos termos de autorização apresentados pelas entidades que realizavam os descontos. Na resposta, o então presidente do INSS afirmava que, só após a avaliação da defesa apresentada pelas entidades, seria possível produzir um relatório conclusivo sobre o tema. 

Investigação da Polícia Federal e da CGU apontou um esquema nacional de descontos associativos não autorizados feitos por sindicatos em aposentadorias e pensões, que retiraram R$ 6,3 bilhões dos beneficiários entre 2019 e 2024. Desse total, o governo ainda não identificou quanto foi descontado ilegalmente e quanto foi devidamente autorizado. 

Na resposta enviada ao Congresso, o então presidente do INSS também ressaltou uma norma editada em março de 2024 que exigia a verificação por biometria para liberação do desconto. 

"O INSS obrigou as entidades credenciadas a efetuarem toda e qualquer autorização, por meio de termo de adesão, com o uso de eletrônica avançada e biometria. Se não houver biometria, a autorização não é averbada", disse.

Mas as investigações apontaram que servidores do INSS investigados teriam atuado para liberar descontos por um sistema de biometria "alternativo" enquanto o sistema desenvolvido pela Dataprev não entrasse em vigor – o que permitiu que o número de descontos considerados indevidos por auditores e investigadores continuassem crescendo ao longo de 2024. 

Lula demitiu Stefanutto após operação da PF

Após a operação da Polícia Federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu Alessandro Stefanutto, afastado do cargo inicialmente por decisão da Justiça. Além de Stefanutto, outros cinco dirigentes do INSS foram afastados do órgão.

A CGU iniciou a apuração em 2023, com realização de auditorias em 29 entidades que tinham Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS. Nessas auditorias, foi identificado que as entidades não tinham estrutura operacional para prestar os serviços que ofereciam aos beneficiários e que 70% não tinham entregado a documentação necessária à entidade. 

Após a auditoria, em 2024, a CGU encaminhou um relatório sobre as irregularidades encontradas para o INSS, inclusive com recomendações que deveriam ser adotadas pelo órgão para evitar as fraudes.