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Autoridades lamentam morte de Sebastião Salgado: ‘grande brasileiro’, ‘capturou a alma do mundo’
Nascido em Aimorés, Minas Gerais, em 1944, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior morreu nesta sexta em Paris, na França, aos 81 anos
BRASÍLIA – Autoridades brasileiras usaram as redes sociais para lamentar a morte do fotógrafo Sebastião Salgado, nesta sexta-feira (23), aos 81 anos. Todos exaltaram a grandeza do mineiro de Aimorés, reconhecido no mundo todo por suas imagens impactantes, impressas, em sua grande maioria, em preto e branco.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de lamentar a morte de Sebastião Salgado, ressaltou a importância do trabalho do fotógrafo.
“Seu inconformismo com o fato de o mundo ser tão desigual e seu talento obstinado em retratar a realidade dos oprimidos serviu, sempre, como um alerta para a consciência de toda a humanidade. Salgado não usava apenas seus olhos e sua máquina para retratar as pessoas: usava também a plenitude de sua alma e de seu coração”, disse ele em nota oficial.
“Por isso mesmo, sua obra continuará sendo um clamor pela solidariedade. E o lembrete de que somos todos iguais em nossa diversidade. Aos seus amigos e familiares, deixo meu forte abraço”, completou.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), escreveu, no X, que, “com suas lentes, Sebastião Salgado nos revelou as belezas e injustiças do mundo, congeladas em seus registros fotográficos”.
“Uma celebração da vida e da natureza e um chamado à ação consciente, em prol de um mundo inclusivo e sustentável. Neste momento de dor, transmito meus sentimentos e orações aos familiares e amigos desse grande brasileiro, cujo trabalho seguirá nos inspirando”, completou.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, afirmou ter recebido a notícia da morte do fotógrafo com “imensa tristeza” e se solidarizou com familiares. “Sua lente capturou a alma do mundo, com olhar humano, poético e profundamente transformador”, afirmou Margareth.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ter perdido um “amigo”. “O Brasil perdeu um dos maiores expoentes da fotografia mundial. A morte de Sebastião Salgado deixa uma lacuna irreparável no jornalismo brasileiro. Descanse em paz, companheiro”, escreveu Haddad no X.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (SFT), ministro Luís Roberto Barroso, ressaltou que Sebastião Salgado foi “um grande artista”.
“Ele era um dos patrimônios culturais brasileiros, embora estivesse vivendo na França. Há poucas semanas, ele me telefonou por uma questão que o preocupava. Ele é um homem que tinha um olhar voltado para a proteção ambiental, para a proteção das comunidades indígenas, para outras causas importantes da humanidade”, afirmou Barroso.
Também ministra do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, foi outra autoridade a se manifestar sobre a morte de Sebastião Salgado.
“Enorme perda para o Brasil e para essa humanidade tão precisada de grandes humanidades como o Tião. Sebastião era Salgado apenas no sobrenome: um ser humano a mostrar uma doçura total, mesmo nas denúncias fotografadas das indignidades e feridas do mundo.”
O ministro Herman Benjamin, presidente do Superior Tribunal de Justiça, também destacou a trajetória de Sebastião Salgado. “Sebastião Salgado é um gigante entre os que, pela fotografia, estampam e descortinam o sujeito ou o objeto - lindo ou feio, alegre ou triste, otimista ou depressivo. Ele e sua obra se posicionam ao inverso do fotojornalismo perfumado, típico dos porta-vozes de um certo supremacismo da prosperidade e do glamour. A lente de Salgado desnuda a vida, não deseja inventá-la, distorcê-la ou fantasiá-la. À apreensão não encerra prazer coma desgraça do próximo ou com a fragilidade da Natureza e dos povos indígenas. Tampouco idolatra o pessimismo, o culto frio do padecimento e da infâmia. É narrativa do factual. O que temos mesmo na fotografia de Salgado é solidarismo puro, que almeja o florescimento sincrônico. O objetivo primário não é chocar sensibilidades delicadas, mas tocar as entranhas empedernidas dos cegos involuntários ou por opção”.
Fotógrafo militou pela justiça social e preservação do meio ambiente
O trabalho de Sebastião Salgado ficou marcado pelo registro de seres humanos vivendo em condições sub-humanas. Denunciou as mazelas da sociedade e chamou a atenção para a importância da justiça social e da preservação do meio ambiente. Percorreu mais de 120 países.
Sebastião Salgado formou-se em Economia antes de migrar para a fotografia. Mestre em economia pela Universidade de São Paulo (1968) e doutor pela Universidade de Paris (1971), ele trabalhava na Organização Internacional do Café, em Londres, quando iniciou o desejo de fotografar.
O trabalho exigia muitas viagens à África e Salgado gostava de documentar o que via. Em 1974, fez seu primeiro trabalho como fotógrafo freelancer para a agência Sygma. Rapidamente se destacou, sendo contratado por outra agência, a Gamma.
No fim de 1979, Salgado ou a integrar a Magnum, cooperativa que revolucionou a fotografia documental no século 20, fundada por nomes como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa.
Na década de 1980, o fotógrafo já havia se estabelecido o suficiente para financiar projetos pessoais. No livro Outras Américas, de 1986, ele registrou povos indígena de toda a América Latina.
Já com a série Trabalhadores, de 1997, documentou o trabalho manual e penoso de indivíduos ao redor do mundo, de minas de enxofre na Indonésia à pesca de atum na Sicília.
Durante a produção da série, Salgado fez um dos trabalhos pelo qual é mais lembrado: o registro de garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, que revela as condições desumanas em que a extração do ouro ocorria.
Uma das imagens da série, a obra Mina de Ouro de Serra Pelada, Estado do Pará, Brasil, foi eleita pelo jornal New York Times como uma das 25 imagens que definem a modernidade.
O fotógrafo também se dedicou a registrar a vida de migrantes, desabrigados e refugiados nos livros Exôdos e Retratos de Crianças do Êxodo. Para o projeto, ele viajou durante seis anos por mais de 40 países.
Em 1994, Salgado fundou a agência Amazonas Images, dedicada ao seu trabalho. A maior floresta brasileira também foi tema de seus trabalhos. O fotógrafo ou seis anos viajando pela região e documentando seus povos, rios, montanhas e animais.
As imagens estão reunidas em um livro e foram apresentadas em uma exposição que ou por cidades como Paris, Rio de Janeiro e São Paulo em 2022.
O mineiro foi reconhecido com alguns dos principais prêmios da fotografia mundial, como o Eugene Smith de Fotografia Humanitária, dois Prêmios I Infinity de Jornalismo, o Prêmio Erna e Victor Hasselblad e o prêmio de melhor livro de fotografia do ano do Festival Internacional de Arles por Workers, por Trabalhadores.
Sebastião Salgado convivia com as sequelas de uma malária adquirida na década de 1990, e, de acordo com amigos, os medicamentos deixaram de funcionar nos últimos anos. Ele morava em Paris com a esposa, Lélia Wanick e deixou dois filhos, Juliano, que nasceu em 1974, e Rodrigo, de 1979.
Juliano é cineasta e lançou em 2015, ao lado do diretor Wim Wenders, o documentário O Sal da Terra, que conta a trajetória de seu pai. O longa foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário e recebeu o prêmio César, principal premiação do cinema francês. (Com Estadão Conteúdo)