Zema, o humorista
Imagem pública corroída do governador
Gustavo Dias é profissional de marketing político e mestre em comunicação social (UFMG)
Todo mundo que entende minimamente a política sabe que ainda estamos muito longe das eleições de 2026. Para usar uma expressão mineira: muita água ainda vai ar debaixo da ponte até lá. Mas já é possível analisar como os presidenciáveis têm se posicionado. Até aqui, Zema tem perdido o jogo.
A construção da imagem pública de um candidato presidenciável é aspecto fundamental, do qual parte toda a estratégia eleitoral. Esse é um processo complexo e multifacetado, que envolve o modo como uma figura é percebida no espaço público. Mais do que uma performance individual, trata-se da disputa entre valores, discursos, signos e expectativas sociais.
Presidenciáveis
Analisando três possíveis candidatos da direita brasileira, observamos que as estratégias de cada um são muito diferentes. Enquanto Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo Caiado (GO) se posicionam como gestores sérios, Zema aposta em memes, vídeos cômicos e tiradas simplistas. E esse caminho, embora traga visibilidade, destrói a credibilidade que um presidenciável precisa cultivar.
Não é por falta de alinhamento ideológico, afinal, Zema é liberal, gestor, empresário, antipetista, mas pelo modo como tem apresentado sua imagem nas redes sociais.
Desde que ou a ser orientado pelo marqueteiro Renato Pereira, o governador virou personagem de seus próprios vídeos. Já apareceu comendo banana com casca para criticar a inflação e ironizou a possível camisa vermelha da seleção brasileira.
Forma e conteúdo
Há uma clara desconexão entre forma e conteúdo. O formato utilizado é irreverente, descolado e, não sabemos se propositalmente, quase adolescente. A postura que se espera de um presidenciável, no entanto, é de firmeza, competência, sobriedade e capacidade de liderança em situações complexas.
Na teoria da comunicação, isso é o que chamamos de “fachada visível”: a imagem que o político pretende apresentar de si. Quando essa fachada não corresponde ao que se espera de uma liderança nacional, há um descomo. O tom irreverente que adota se afasta da expectativa de autoridade que o eleitorado conservador costuma valorizar.
Ao insistir nessa linha, Zema rompe com a própria identidade que o colocou em evidência: a do gestor técnico, defensor de privatizações e do Estado enxuto. Troca a imagem do por uma tentativa mal-ensaiada de influenciador digital.
Enquanto isso, Tarcísio se destaca ao equilibrar crítica e pragmatismo. Já fez acordos com o governo federal quando isso favoreceu São Paulo e, mesmo assim, manteve o apoio do campo conservador. Mostra que é possível fazer oposição sem parecer folclórico.
Caiado segue a mesma linha. Fala duro contra Lula, mas o faz em entrevistas, eventos oficiais, com discurso político tradicional. Com isso, projeta uma imagem de estadista, algo que o eleitorado de direita respeita.
Imagem pública
Zema, por outro lado, se perde no personagem. Seus conteúdos não comunicam resultado, não inspiram confiança e não projetam liderança. São ruídos que podem funcionar para manter a base engajada, mas que dificultam qualquer salto para fora da bolha bolsonarista.
A política brasileira não é para amadores. Em tempos de redes sociais, a imagem pública precisa ser pensada como um ativo estratégico. Viralizar não é o mesmo que liderar. Ter alcance não significa conquistar votos. E produzir humor não garante respeito.
Se continuar nesse caminho, Romeu Zema pode até ganhar curtidas, mas corre o risco de perder o que realmente importa em uma eleição presidencial: ser levado a sério.