GRAZIELA ALVES

É hora de virar a chave e mudar a cultura organizacional

Atualização da NR-1 pelas empresas

Por Artigo de Opinião
Publicado em 23 de maio de 2025 | 07:00

Graziela Alves é psicóloga, especialista em gestão de pessoas e negócios pela Fundação Dom Cabral

Daqui a um ano, em maio de 2026, a nova redação da Norma Regulamentadora 1, que incluiu os fatores psicossociais no gerenciamento de riscos internos das empresas, entrará em vigor. A rigor, esses fatores psicossociais já deveriam estar no radar das organizações. O que vemos, porém, são as empresas correndo atrás para se adequar em função da nova norma.

Vale ressaltar que, ainda assim, esse movimento é relevante, pois é preciso mudar culturas organizacionais arraigadas, que nunca deram a devida importância a fatores que podem afetar a saúde mental dos funcionários.

A cultura de uma companhia está na sutileza, nos pequenos códigos: nos comportamentos que são valorizados e celebrados internamente e naqueles que não são tolerados. A figura do profissional de RH será essencial para ajudar a companhia a “mudar a chave”.

Mapeando os riscos

O primeiro o para isso será mapear todos os riscos psicossociais existentes na empresa e identificar as fontes potenciais de estresse. Afinal, nunca é demais nos lembrarmos de que fatores como metas impossíveis, jornadas de trabalho excessivas, assédios moral e sexual, ausência de e e , falta de autonomia e hiperconectividade são os principais causadores de enfermidades psicoemocionais, como distúrbios do sono, estafa e burnout.

Indo além, não é insensato considerarmos que, se a pessoa já tem alguma predisposição química em seu organismo para desenvolver essas condições, um ambiente psicoemocional inseguro no trabalho pode servir de gatilho.

O mapeamento das fontes de riscos emocionais deve ser feito com a mesma preocupação e diligência com que fatores que provocam afastamentos e acidentes, por exemplo, são controlados.

Tecnologia: vilã ou aliada?

A tecnologia também pode reduzir o risco de estresse na empresa, por meio da introdução de algum nível de automação. Já a hiperconectividade é um fator de risco importante. Antigamente, você saía do trabalho às 18h e era pouco provável que o telefone fixo da sua casa tocasse para tratar de assuntos de trabalho. Hoje, cozinhamos ou dirigimos escutando áudio de WhatsApp, por exemplo. Estamos sempre ando e-mail corporativo.

A multitarefa é ótima para a produtividade, mas cobra um preço da saúde mental também. É bênção. Mas também maldição.

A importância do

Eu sempre digo que nem promoção, nem demissão deveriam ser surpresas para o colaborador. É preciso dar retorno sobre o desempenho do funcionário sempre. Todos vão entender em que estão se destacando e o que está faltando na entrega.

Mudar uma cultura organizacional, como se vê, é missão complexa, mas possível se o mapeamento desses riscos psicossociais for feito de forma criteriosa e minuciosa. Porque não basta criar uma cartilha com recomendações de “boas práticas”. Isso, por si só, não resolve. Por vezes, as soluções podem envolver capacitação de líderes e reformulação de fluxos de trabalho.

O que importa, e que será questionado pelo Ministério do Trabalho, é: a conduta na empresa é coerente com o que a cartilha prega? É isso que, daqui a um ano, será cobrado das empresas.

(*) Mestra em istração e fundadora da Fidhem - Consultoria em Comportamento Humano e Organizacional.