Frei Chico, irmão de Lula, é vice-presidente de sindicato alvo de operação contra fraude no INSS

BRASÍLIA - Irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, acabou envolvido na Operação Sem Desconto, realizada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU), que apura entre 2019 e 2024. 

Isso porque ele é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos do Brasil (Sindnapi) — uma das 11 entidades investigadas. Apuração da Polícia Federal e da CGU apontou um esquema nacional de descontos associativos não autorizados feitos por sindicatos em aposentadorias e pensões, que retiraram R$ 6,3 bilhões dos beneficiários entre 2019 e 2024. Desse total, o governo ainda não identificou quanto foi descontado ilegalmente e quanto foi devidamente autorizado pelo beneficiário.

Apesar de não ser alvo direto da investigação, o nome de Frei Chico virou foco na imprensa em meio à repercussão do escândalo. Em entrevista ao Estadão, ele declarou que estava tranquilo em relação à operação. “Nosso sindicato já foi auditado, estamos tranquilos. Eu espero que a Polícia Federal investigue de fato, porque tem muita entidade picareta por aí”, disse o irmão mais velho de Lula. 

Filiado ao Sindnapi desde 2008, Frei Chico assumiu a vice-presidência da entidade em 2023. O sindicato é acusado de participar de esquemas que permitiram descontos indevidos de mensalidades associativas diretamente nos benefícios de aposentados e pensionistas. Aos 83 anos, Frei Chico tem uma longa trajetória marcada pela militância sindical e pela atuação nos bastidores da política operária. 

Operação gerou crise no governo Lula

O envolvimento indireto dele piora a crise dentro do governo Lula. Nesta quinta-feira (24), o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius de Carvalho, anunciou a criação de um grupo especial para reestruturar o sistema de descontos nas aposentadorias, por determinação do presidente. Além disso, o governo já suspendeu todos os descontos a partir de maio. 

"Essa é uma prioridade do presidente Lula, essa é uma prioridade do governo Lula, garantir que os aposentados que foram lesados sejam restituídos os recursos que deles foram extraídos", afirmou o ministro.

"Vamos reorganizar esse sistema para tornar esse sistema hígido, seguro, íntegro para toda a população brasileira e principalmente principalmente para esses aposentados. É necessário agora que se faça a suspensão de todos esses acordos de cooperação técnica, de todos, de todas as entidades, que foram celebrados com o INSS nos últimos anos", explicou Vinícius de Carvalho.

Logo após a deflagração da operação, Lula mandou também demitir o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Ele já havia sido afastado do comando do órgão por decisão judicial. A exoneração foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), no fim da tarde de quarta-feira (23). Inicialmente, em entrevista coletiva no início da tarde, Lupi defendeu Stefanutto.

Outros cinco dirigentes do INSS foram afastados do órgão por ordem da Justiça Federal, que expediu 211 mandados judiciais de busca e apreensão, ordens de sequestro de bens no valor de R$ 1 bilhão, além de seis mandados de prisão temporária no Distrito Federal e em 13 Estados para serem cumpridos nesta quarta.

O sexto servidor público afastado de suas funções por ordem judicial é um agente da PF que trabalha no aeroporto de Congonhas (SP), mas não teve o nome divulgado. Segundo as investigações, ele dava apoio ao esquema.