A politicagem brasileira, feita de embates e sem propostas decentes, espelha fielmente o nível de desenvolvimento social, moral e intelectual da nossa sociedade.

Um Congresso Nacional e um governo não nascem sozinhos, são eleitos pela maior parte da população. O que está acontecendo, na prática, é culpa nossa. É produzido por uma sociedade sofrida, alienada.

O mais arrepiante e desanimador é reconhecer que não existe um plano nacional definido, metas, esforços para resultados efetivos, nem proposta de fórmulas consistentes para alcançá-los. O que se assiste  é um grande festival de interesses pessoais, corporativistas e marginais ao bem comum. Lutas, separações, conflitos, embates ideológicos, relegando ao esquecimento o que, afinal, é dever e missão de todos, servir à nação.

O maior servidor público é o presidente da República, o menor pode ser o gari que varre as ruas de uma cidade de interior. Ambos, e entre eles uma infinidade de níveis, estão igualmente a serviço do bem público. Mas isso é a realidade? Isso é verdade?

O comportamento, as atitudes, as cruas demonstrações comprovam  um distanciamento oceânico entre dever assumido e prática reconhecível.

O bem comum desaparece, e no lugar dele surgem monstruosos fenômenos, como empoderamento de grupos, de partidos, de corporações,  que, ao contrário do que está esculpido na Constituição, “Carta Magna”, assumem espaço para se servir pessoalmente do cargo, e não para servir à população.

Tem algum líder brasileiro que se espelha em Gandhi? Um dos maiores reformadores e políticos da história, um estoico de sucesso que deixou a Índia nos trilhos da liberdade e progresso. Deixou ainda um legado de integridade, que continua a produzir milagres. Ele viajava do seu país para a distante Inglaterra no porão da terceira classe de navio, se deslocava pelos seu país na terceira classe do trem,  alegando que um governante tem que viver a realidade da maior parte de seu povo, a que tem que servir. Exatamente o contrário do que vemos hoje.

Poderíamos apontar centenas de exemplos de desperdícios, que ainda deixam exemplos tristes e deprimentes. Um deles, a recente decisão da Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte que ampliou os seus gastos. De um Orçamento previsto de R$ 454 milhões, com a alegação de necessidade de “recompor” sua saúde financeira e cobrir despesas, ou o valor para R$ 492 milhões. Quer dizer que o custo anual, dividido pelo número de 44 vereadores, confirma o gasto por exercício de R$ 11,2 milhões por gabinete, quase R$ 1 milhão por mês por vereador. Já poderia parecer razoável um valor cinco vezes menor, deixando centenas de milhões para atender a população. Já que vereador vem para servir à população, nao pode ar a se servir despudoradamente das oportunidades. Isso, além do prejuízo direto, se torna um péssimo exemplo num país e numa cidade com infinitas necessidades não atendidas.

O homem público deve à população um exemplo de virtude, e não de pecado!

Vivemos assim uma realidade deprimente, marcada por um aumento de suicídios de jovens desrespeitados e deixados sem as perspectivas que merecem, além de o país estar se transformando numa dominação pelo crime organizado.

Se não se tem maturidade social, política e intelectual, muito menos coragem para defender o bem comum, o país deixa crescerem tumores e metástases que um dia deverá enfrentar dolorosamente.