CRISTOVAM BUARQUE

A diversidade indecente 4h2r4f

Rendismo e o o desigual à educação de qualidade 63862

Por Cristovam Buarque
Publicado em 09 de maio de 2025 | 07:10
 
 
Falta de estrutura, risco social e falhas do professor são desafios no ensino Foto: Fotos Alex de Jesus

Recentemente, o ex-ministro Raul Jungmann apresentou sua visão sobre a importância moral e a necessidade social de combater preconceitos e promover a diversidade. Apesar da qualidade e relevância, o artigo manteve a tradição de ignorar o “rendismo”: a discriminação ao o a bens e serviços essenciais conforme a renda da pessoa.

O respeito à diversidade nasce do que é ensinado nas escolas: na formação da mente e na definição de comportamentos. Apesar da percepção, no Brasil, o o a escolas de qualidade com permanência até o final da educação básica depende de um preconceito disfarçado: a renda da criança.

O sistema escolar mantém até hoje “escolas-senzala”, para pobres, “descendentes sociais” dos escravos, e “escolas-casa-grande”, frequentadas pelos “descendentes sociais” dos escravocratas, que podem pagar as altas mensalidades em instituições privadas ou que conseguem vaga em alguma das raras boas escolas públicas, quase todas federais. Pela abolição, brancos e negros tornaram-se iguais perante a lei, mas ricos e pobres continuam a ter direitos diferenciados.

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Para ser plenamente alfabetizado hoje, é preciso saber ler, escrever e criticar em português; ser fluente em pelo menos um idioma estrangeiro; aprender a deslumbrar-se com as artes; ter competência e gosto para o debate sobre os temas de filosofia, política, antropologia e sociologia; indignar-se com a permanência da pobreza, da desigualdade social, do autoritarismo, da corrupção e de preconceitos contra as minorias. 

Além disso, saber usar as ferramentas digitais para usufruir e trabalhar com elas; adquirir noções e gosto pela prática de solidariedade com vizinhos, compatriotas e toda a humanidade, respeitando os patrimônios cultural e natural e sua diversidade; querer participar da construção de sociedades pacíficas, com desenvolvimento sustentável, democrático e justo. Essa educação necessária não é oferecida à maior parte dos brasileiros, discriminada pelo rendismo.

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Essa discriminação é executada pela falta de um sistema único público de educação básica com máxima qualidade, permanência e equidade. Como consequência, o destino de cada brasileiro é definido desde o nascimento conforme a renda. Apesar de um negro rico poder frequentar a mesma escola que um branco rico, a pobreza tem cor preta, porque a maior parte da população pobre é excluída da educação de qualidade devido ao rendismo.

O mesmo padrão moral aplicado à desigualdade na qualidade da educação é aplicado à desigualdade no o a bens e serviços supérfluos e suntuários. Além de imoral, essa visão é também estúpida, porque não é percebida como a causa de todos os demais preconceitos: a diversidade indecente determinada pela renda impede o respeito às diversidades decentes.