Opinião

A hipoglicemia pode vir em situações distintas 5l33l

Problema pode ocorrer mesmo após refeições 296m2b

Por Dra. Meira Souza
Publicado em 26 de agosto de 2023 | 07:35
 
 
Ilustração/O Tempo

Por que algumas pessoas se sentem muito desanimadas e extremamente sonolentas após as refeições? Algumas, inclusive, sentem dores de cabeça.

Vou dividir com vocês a história de um paciente porque acredito que muitas pessoas possam se identificar com ele.

Quando eu o recebi, ele se referia a um desconforto após comer e identificava alguns alimentos como vilões, mas no final eram tantos alimentos que ele já não sabia mais quais causavam o mal-estar. Dizia que tinha alergias, mas os sintomas não eram característicos de alergias. Sentia um mal-estar como se fosse desmaiar – algumas vezes já até tinha ocorrido.

Quando eu disse a ele que achava que estava tendo uma hipoglicemia, ele ficou surpreso porque as sensações ocorriam logo após ter comido e algumas vezes depois de ter comido muito.

“Como assim, doutora? Eu não estava com fome para ter hipoglicemia”.

Isso mesmo, a hipoglicemia em situações em que a pessoa está de jejum há muito tempo já é bem conhecida, mas ter hipoglicemia após comer não é comum. 

Eu insisti com ele e, para me certificar da minha hipótese diagnóstica, solicitei exames. Para a surpresa dele, a glicemia de jejum era bem mais alta do que a glicemia após o almoço.

Mais uma vez ele se impressionou. 3n6k56

Para explicar minha suspeita, solicitei também a insulina de jejum e após o almoço e então pude explicá-lo o que ocorria. Em jejum, o valor da glicemia era 97, e o da insulina, 17. Porém, após o almoço sua insulina se elevava para 47, e a glicemia se reduzia para 61, ou seja, hipoglicemia e todos os sintomas decorrentes disso.

Quanto mais insulina, menos glicose no sangue, porque é a insulina que transporta a glicose do sangue para a célula. Conversei com ele sobre a necessidade de fazer uma dieta com alimentos de baixo índice glicêmico para reduzir a produção de insulina pelo pâncreas, para ele não se sentir mal e não evoluir para o diabetes.

Nosso corpo se comporta como uma fonte de energia não renovável. Se estimularmos o pâncreas demais com um consumo exagerado de alimentos com alto índice glicêmico, ele produzirá uma grande quantidade de insulina por um tempo e depois não conseguirá produzir mais. Consequentemente, o mesmo paciente que em determinado momento tem insulina demais, agora, esgota as reservas de insulina e se torna diabético.

O papel do médico não é apenas o de acompanhar o paciente no seu infortúnio, mas principalmente evitar que ele chegue à doença, e as doenças seguem um caminho; considerando que o paciente já vem tendo essas sensações há anos, muito já poderia ter sido feito para afastá-lo do diabetes. 

Os sintomas não existem apenas para gerar sofrimento, eles existem para nos comunicar que algo não vai bem com o nosso corpo e não devemos nos apressar para remover os sintomas, mas estudá-los com o objetivo de retirar o paciente da condição de doente.

Se você também se sente estranho após as refeições, não pense que é normal. Busque ajuda.

Dra. Meira Souza é médica e escritora