Pelo direito de renascer
Permitir-se deixar os erros e a dor para trás
Morremos várias vezes ao longo da vida. Constantemente, abandonamos possíveis versões de nós mesmos. Angústia é nossa companhia durante o processo de compreensão de quantas coisas não fizemos ou deixamos de ser. É racional divagar sobre as decisões que tomamos, e é inteligente questionar se elas foram o melhor caminho que poderíamos ter tomado.
Nesse turbilhão de ados e futuros que rodeiam nosso ser, é fácil se sentir desamparado. E, em meio a esse difícil sentimento, parece quase inevitável se esquecer daquilo que somos, dos caminhos que já trilhamos, das boas decisões que tomamos e de todo aprendizado que adquirimos. Mesmo quando algo não foi bom, fomos capazes de encontrar sentido.
É preciso fazer o esforço de olhar com carinho para o próprio ado, encontrar nele a força para sermos quem desejamos ser.
Em meu consultório, não é raro encontrar pacientes com pequenos problemas, mas que são tão apegados a eles que facilmente poderiam ser tomados por alguém com uma condição terminal. Mas também me deparo com pacientes que, apesar de difíceis desafios, encontram neles a força para se agarrar à vida e cuidar cada vez melhor de si mesmos.
Pacientes com um ado difícil comumente têm dificuldade de aceitar estar bem. Essa condição não é familiar para eles, e muitos acham que se dissociar disso é perder uma parte de quem são. Não é, mas parece morrer.
Odiar-se ou não se permitir viver bem é um tema complexo. É desafiador explicar que o desamor para consigo é não somente nocivo, mas também não leva a lugar nenhum. Não existe um prêmio para quem se pune mais ou para quem não cuida de si.
Essas punições têm várias faces. Podem vir de alguém que a os dias sentado e se recusa a fazer algo por “preguiça” tanto quanto podem vir de alguém que não consegue se cuidar por ar mais de 80 horas por semana trabalhando sem que isso seja realmente necessário.
O autocuidado também a pelo policiamento de como nos tratamos intimamente. Quem somos nós quando estamos sozinhos?
É preciso se permitir evoluir, entender que é impossível apagar os erros do ado, mas que o presente está em nossas mãos e o futuro é nossa oportunidade de ser melhores. Ninguém é errado por priorizar a própria felicidade se esta não causar mal a ninguém.
A vida muitas vezes será injusta; comumente somos obrigados a viver com as consequências de algo que não escolhemos diretamente. Essa sensação de injustiça também paralisa, mas mesmo ela não pode ser mais forte do que sua vontade de ser melhor.
A saúde é também resultado da autorização deste renascimento, que por vezes pode parecer assustador. Nele também existe a possibilidade do erro, mas, ao assumir nossa própria história e aceitar nosso caminho imperfeito, seremos capazes de viver vidas que, se não boas, ao menos serão melhores. Deixe ir o que precisar, permita renascer aquilo que te faz bem.</CW>