O fim do casamento de Virginia Fonseca e Zé Felipe se tornou um dos assuntos mais comentados das redes sociais na última semana. O casal, que durante os últimos cinco anos conquistou uma legião de seguidores, compartilhando a rotina familiar com os três filhos, surpreendeu ao colocar um ponto final na relação. Em comunicado nas redes sociais, porém, a influenciadora e o cantor garantiram a continuidade da amizade.
Psicóloga de relacionamentos, Camila Fardin Grasseli, afirma que, apesar de raras, essas relações podem existir, mas precisam de alguns critérios para se manterem a longo prazo. “É possível manter a amizade desde que as pessoas envolvidas não tenham ressentimento”, sustenta a especialista. Ela observa que, quando o término é recente, manter a amizade com o ex pode ser uma forma de conforto, o que traz riscos.
“É muito comum que, ao final de um relacionamento, às vezes fica tão pesado terminar que a gente diz que quer ficar amigo. E às vezes esse plano não dá certo, porque tem muito ressentimento envolvido. Por outro lado, às vezes você nem está falando um com o outro que quer ser amigo, mas acaba que têm um relacionamento cordial, não necessariamente amizade, mas cordial, de respeito, isso é super possível de ser mantido”, acredita Camila.
Alguns ex-casais de famosos podem ser exemplos dessa amizade que permanece após o fim do relacionamento amoroso, como demonstram Murilo Benício e Giovanna Antonelli; Sabrina Sato e João Vicente de Castro; Thiaguinho e Fernanda Souza; Sandy e Lucas Lima; e Marcello Novaes e Letícia Spiller, os eternos Raí e Babalu da novela “Quatro por Quatro”, exibida em 1994 na Rede Globo, no auge do romance do casal.
Para a psicóloga Marcelle Primo, “é possível manter a amizade, sim, principalmente quando ainda existirem laços como filhos, animais, negócios e círculo de amigos em comum”. “Se ambos concordarem quanto à proximidade e entenderem que a vida continua e outras pessoas entrarão em seus campos de afetos, a amizade pode ser um ganho pessoal e social”. Ela defende que “não é só de interesse patológico”, ou seja, de viés doentio, “que se faz a amizade com um ex”, mas pontua “sinais de atenção”.
“O interesse genuíno no bem-estar e na perspectiva de vida do outro também pode ser fundamento dessa relação. A dificuldade de encerrar algo e a tentativa de mascarar que está bem, se tornando amigo ou amiga de um ex, evidencia atitudes ambíguas, obscuras e afeto torto. Isso impede a relação de prosseguir porque, em algum momento, o outro pode se sentir incomodado e querer distância”, analisa Marcelle.
Limites
Em entrevista à imprensa após uma apresentação em Portugal, Zé Felipe negou boatos de que teria traído Virginia e voltou a afirmar que o término foi pacífico. “A gente não pode deixar chegar no limite, né? É melhor separar com amor do que com briga. A gente tem o maior presente que Deus poderia colocar em nossas vidas, que são os nossos filhos, e o reflexo acaba sendo para os filhos que não têm nada a ver com problema nenhum. Todo mundo sabe que se tivesse traição não ia ser pacífico, não tem como. Ninguém tem coração de barata”, afirmou o cantor.
A psicóloga Camila Fardin reforça que, quando o casal tem filhos, é ainda mais importante manter a cordialidade, já que é praticamente impossível romper o laço completamente. “Os filhos obrigam as pessoas a manterem relações. E muitas vezes ela pode ser saudável, cordial, respeitosa e de amizade sem o menor problema. Desde que cada um saiba exatamente o lugar que ocupa na vida do outro”, pondera a especialista. Marcelle complementa que “o fator psicológico que viabiliza uma amizade com o ex é a pessoa ter a clareza de que a vida possui momentos cíclicos, que se iniciam e encerram”.
“Não é porque algo terminou que a vida cessa ou não haverá mais outras possibilidades ou soluções para o que está por vir. Conjugar o verbo ‘amar’ no ado é atípico, pois o amor é um afeto costumeiramente do presente. O ‘amei’ já não é mais só amor, é amor misturado com melancolia, ressentimentos, saudade, rancores, arrependimentos. O sucesso dessa modalidade depende de que ambos queiram viver essa outra formatação, sabendo das diferenças e dos novos limites existentes”, afiança a psicóloga, que ressalta que “ser amigo do ex não é uma relação para todo mundo”.
“As pessoas obsessivas, as controladoras e as melancólicas, por exemplo, possuem um viés de enlaçamento com o ex que pode tender à patologização, porque o afeto que elas querem nutrir diz respeito ao desejo delas de permanência e não de continuidade de outra maneira. Algumas outras, como as de personalidades mais extrovertidas, levarão o antigo relacionamento como algo do ado e isso não implicará em sofrimento. A amizade com um ex é algo que nem todos am ter. Se o término ocorreu com litígio, traições, violência, dívidas e irresoluções, é melhor, para ambos, que cada um vá procurar viver separadamente sem contato. Caso o contato seja necessário, é necessário visar a boa educação e o respeito mínimo”, avalia Marcelle.
Novos afetos
A chegada de novos parceiros também pode ser um pretexto para abalar a relação de amizade. Entretanto, desde que tudo esteja bem resolvido, é possível manter o contato cordial. “Quando essas questões emocionais são superadas, é possível que as pessoas possam ser amigas, mesmo com a chegada de novos relacionamentos”, afirma Camila Fardin.
Zé Felipe postou uma imagem de seu último show no Instagram com a legenda “o futuro a Deus pertence”, mas se mostrou abalado no palco e chegou a chorar ao som da música “Só Tem Eu”, que aborda o término de um relacionamento. Virginia acompanhou a apresentação do ex-marido e filmou a emoção do filho de Leonardo. Marcelle pontua, novamente, que “estar perto de quem se amou muito não é para todo mundo”.
“Algumas pessoas conseguem lidar com a mudança de status da relação, outras não. É confuso num primeiro momento ter intimidade e não a exercer. O desafio principal é não se sentir senhor ou senhora daquela pessoa e sua subjetividade. Ela é um ser livre, com direitos e deveres. Não se trata de vassalagem. A história vivida está para sempre inscrita no tempo e no espaço. Não será desfeita porque a vida continuará. Para ser saudável, é preciso conseguir viver com o outro-sem você”, opina.
A especialista enumera sinais que indicam que algo não está indo bem, como “uma das partes estar sofrendo e chorando perto da outra pessoa com quem não está mais; a tristeza ser uma expressão recorrente; sentimentos e ataques de ciúmes quando a outra pessoa menciona que está com ou apresenta um novo par; críticas constantes ao novo parceiro do ex; vontade de controlar a vida do ex exigindo saber o que a pessoa faz, com quem está e aonde vai; parar de realizar atividades da própria vida para observar e querer participar da vida que a outra pessoa está realizando agora; querer interferir na nova relação; buscar meios e modos de demonstrar a própria insatisfação para o ex; fantasiar um retorno da antiga relação”, dentre outros.
Para ela, a dica mais preciosa é “se você não consegue ter amizade com um ex, não a tenha, afaste-se para se preservar”. “A amizade com um ex corre o risco de sempre impactar novos relacionamentos amorosos. Não temos como negar os processos involuntários e inconscientes da nossa mente. Isso pode gerar conflitos e reatividade sem uma causa aparente. Trazer um mal-estar que paira no ar e impede a pessoa de estar com outras. Existem alguns casos, os de maior periculosidade, que não convém nem cogitar a amizade com um ex, como quando há ameaça de morte ou autoextermínio após o término e quando os envolvidos já causaram perdas e danos e prosseguem nessa dinâmica para provocar sofrimento mental”, conclui Marcelle.
Tempo ideal para a superação?
A psicóloga Marcelle Primo não acredita que exista um tempo ideal, “medido pelos ponteiros do relógio”, para superar o término de um relacionamento e iniciar uma amizade com o ex. “Há um processo de luto e de desligamento da pessoa com a qual se dividiu parte da vida. Se esse período dura duas semanas ou dois meses, não importa. As pessoas têm tempos e modos diferentes de conseguir se desenlaçar”, aponta.
Todavia, para Marcelle é nítido que “haverá um problema se dez anos depois do término esse desligamento não ocorrer”. “Aí temos um processo de adoecimento. Para a amizade ocorrer, deve-se partir de comum acordo, pois sempre há a chance de uma das partes não querer prosseguir com o contato”, pondera, salientando que a forma como se dará esse novo relacionamento carece da anuência de todos os envolvidos.
“As fronteiras podem surgir naturalmente ou até mesmo serem delimitadas segundo a necessidade de cada um dos envolvidos. A mais importante delas é saber até onde ir na vida do outro-sem você. Existem lugares em que não se deve estar, mas não é porque o outro não queira, é porque faz parte de ser adulto cuidar de si”, finaliza Marcelle.