RELAÇÕES

Tarifas de Trump podem chegar a Minas; entenda quais setores podem ser afetados

Medidas anunciadas pelo presidente dos EUA podem impactar principalmente o mercado de aço mineiro

Por Nubya Oliveira
Publicado em 06 de março de 2025 | 14:39

As novas declarações de Donald Trump acusando o Brasil de ‘cobrar demais dos Estados Unidos’ reacenderam o debate sobre a relação comercial entre os dois países. Na última terça-feira (4/3), durante o tradicional discurso do Estado da União, no Congresso americano, o presidente afirmou que o Brasil - ao lado da União Europeia, China, México e Canadá - cobra tarifas injustas, e por causa disso, taxações recíprocas serão adotadas a partir do dia 2 de abril.

Assim que reassumiu o comando da Casa Branca, Trump anunciou uma tarifa de 25% para o aço e para o alumínio importados. A medida afetou diretamente as exportações brasileiras, que chegam a quase U$ 3 bilhões ao ano. Diante das novas medidas divulgadas pelo mandatário americano, o Brasil - por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) - espera dialogar com membros do governo dos EUA nos próximos dias. 

O diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais na Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), Fabrizio Sardelli Panzini, avalia a relação comercial entre os governos brasileiros e americanos. Confira na entrevista a seguir: 

Como estão as relações econômicas entre Brasil e EUA após as novas declarações de Trump sobre as tarifas brasileiras?

Brasil e EUA terminaram o ano de 2024 com o segundo maior valor histórico de comércio bilateral, acima de US$ 80 bilhões. O comércio é bastante equilibrado, com superávit para os Estados Unidos, com maior valor agregado e conteúdo tecnológico. Ou seja, uma relação ganha-ganha e que deve ser preservada. 
  
As tarifas brasileiras aplicadas aos Estados Unidos são mais baixas àquelas aplicadas ao mundo por conta da integração entre setores importantes dos dois países, como energia, aviões e partes de aeronaves, fertilizantes e medicamentos. Cerca de metade das importações brasileiras de produtos americanos entram no nosso país com tarifa zero. Dessa forma, é importante o diálogo entre os governos dos dois lados para aprofundar uma agenda positiva.

Quais os setores que podem ser mais prejudicados em Minas?

A relação comercial entre os Estados Unidos e Minas vive seu melhor momento, com mais US$ 7,6 bilhões em corrente de comércio em 2024.  Além disso, é um comércio com intensidade maior em bens industriais, com 88% das importações vindas dos EUA, e 67% das explorações de Minas enviadas aos EUA, sendo deste setor. 

Por fim, os EUA são o segundo maior destino e segunda maior origem do comércio mineiro, atrás apenas da China. As vendas de Minas para o país norte-americano são diversificadas, portanto, as medidas podem impactar de forma distinta os setores. Por enquanto, a única concreta que pode atingir o Estado é a do aço. 

Porém, os países estão em negociação para chegar a um bom termo. Entendemos que a integração do setor de aço é um ativo dessa relação. O Brasil é comprador de matérias-primas (carvão siderúrgico) e de bens finais (como máquinas) dos EUA e vende em geral bens de aço semiacabados, que são insumos para a indústria norte-americana.

Como a Amcham pode contribuir para que as questões do momento possam ser melhor negociadas?

Esse é um momento em que o alinhamento entre os governos e setor privado é fundamental para demonstrar os benefícios atuais da relação. A atuação da Amcham tem sido nesse sentido, de fomentar o diálogo e de levar aos dois lados informações sobre comércio, investimentos e tarifas aplicadas às importações.  Além disso, estamos propondo uma agenda positiva em áreas diversas, que am por energia, comércio, investimentos e cooperação mineral, dentre outras.