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Josias Pereira

Mineiro de Pedra Azul, jornalista graduado pela Centro Universitário Newton Paiva, editor do Flashscore Brasil, há mais de uma década no jornalismo esportivo e com experiência em coberturas internacionais, como duas Copas do Mundo e Jogos Olímpicos. Ex-setorista do Cruzeiro em O TEMPO e na FM O TEMPO. Colunista.

OPINIÃO

Gelado para separar joio do trigo e se tornar letal

Às vezes, o planejamento dos sonhos se torna um pesadelo. Mas quando se é capaz de olhar para uma rota e ver um novo caminho, ali está a sabedoria.

Por Josias Pereira
Publicado em 12 de maio de 2025 | 16:59

Metaforicamente, a parábola bíblica traz uma lição sobre a necessidade de distinguir o que é bom do que é ruim. Por vezes insistimos em coisas que realmente não dão certo. Às vezes fazemos por uma obrigação de dar certas respostas e impedimos que uma nova estação chegue até nós porque estamos até o pescoço submersos no joio. E isso vale para qualquer coisa. Inclusive para um time de futebol. 

O espetáculo do início do ano, em um Mineirão tomado para receber jogadores estelares, teve o seu papel — naquele momento. Mas a vida não é uma ciência exata. Às vezes, o planejamento dos sonhos se torna o pesadelo de uma vida toda. Mas quando se é capaz de olhar para uma rota e ver um novo caminho, ali está a sabedoria. E para tanto, é preciso ter coragem. Observe, não vejo as pessoas como descartáveis, aquele sentimento frio de que um desligamento seja o simples cerne do problema. 

Mas, obviamente, existem ciclos que chegam ao fim. Alguns mais prolongados, alguns mais breves. Às vezes é preciso podar certos problemas internos na raiz, evitando que as divergências se aprofundem e tornem-se irreversíveis. E, em alguns casos, é melhor perder milhões aqui, do que perder toda a temporada. 

O fato é que o Cruzeiro, com mudanças importantes no elenco, encontrou um caminho. Por vezes, a formação pode até não ser a mais atrativa visualmente. Mas é exatamente aquilo que o time precisa naquele momento. É perspicácia. É conhecimento. É o dedo do técnico. De quem conhece, de fato, as nuances do futebol. E quem o vive, independentemente de qual estágio esteja. Sendo campeão francês com Mbappé despontando de forma estelar, eliminando o City em uma semifinal de Champions ou goleando o Sport na Ilha do Retiro. O cenário tanto faz quando se quer vencer. 

Separar o joio do trigo requer feeling e, claro, confiança de seus comandados. Quando Jardim desembarcou na Toca e começou a manejar este elenco, Kaio Jorge e Matheus Pereira não eram primeiras opções. O primeiro ainda se recuperava de uma lesão, enquanto o camisa 10 estava com sua mente dividida — e muito confusa. 

Questionava-se muito sobre uma sequência a Matheus Pereira, que amargou o banco em algumas oportunidades e em outras sequer jogava, sendo liberado para presenciar o nascimento de seu filho. Porém, além de feeling, o futebol é momento. E qualquer um que esteja à disposição, pode ser acionado e converter-se em uma peça fundamental na engrenagem. 

Cabe a quem recebe a oportunidade, agarrá-la. Kaio Jorge começou o ano sem saber se a titularidade o aguardava. Mas o trabalho duro compensa. Não à toa, os gols que vêm o acompanhando. Lances de extrema confiança, seja no um contra um, ou arriscando o arremate. 

Lucas Silva estava praticamente descartado em uma feroz competição no meio-campo. Mas olha ele aí, de novo. Peça fundamental. Muitos não entendem o processo e transformam-se em um problema. E todos sabemos... Uma maçã podre tem o poder de estragar todas as outras. Para que esse ponto não chegue, o coletivo precisa ser preservado, doa a quem doer. 

Hoje, gelado e letal, o Cruzeiro vai construindo seus resultados, quebrando tabus incômodos e fazendo um belo início de Brasileirão. Como já disse, o processo ainda é árduo, é longo, carece de tempo, de aprimoramento, mas hoje se vê organização, se vê um elenco com comprometimento, que se estabelece nos jogos, que compete, que vibra no mesmo tom e potencializa as individualidades. É nessa batida que o Cruzeiro precisa girar. Não no que se projeta no papel, mas no que o campo necessita.