Ex-CEO de Flamengo e Corinthians, Fred Luz se tornou um dos executivos com maior experiência em gestão de clubes no Brasil, atuando como consultor istrativo de clubes associações e de Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs). Em entrevista exclusiva ao Lance!, o gestor analisou o cenário dos clubes brasileiros que aderiram ao modelo de atuação empresarial ao longo dos últimos anos.
Para Fred Luz, avaliação das SAFs no Brasil ainda é precoce
Luz destacou que é importante levar em consideração que a trajetória das SAFs ainda está no começo aqui no Brasil. Por isso, a avaliação do desempenho dos projetos ainda é limitada. Entretanto, o cenário que já pode ser destacado, segundo o executivo, é a capacidade de "profissionalizar" a gestão dos clubes e a captação de gestores com mais experiência e interesse em atuar no mercado do futebol.
- Acho que ainda está cedo para fazer a avaliação das SAFs no Brasil como um todo. Está muito recente, são dois a três anos. Começamos com o Cruzeiro, depois Botafogo e Vasco, com duas empresas meio novatas no mundo do futebol, a 777 mais nova que o Textor, e, no caso do Vasco, não funcionou. Acontece, não é incomum. (...) Mas o que a SAF traz de vantagens é você ter uma capacidade maior de atrair gente qualificada para trabalhar nas organizações. Me lembro no começo do Flamengo, que não tinha SAF nem nada, que era muito difícil você encontrar gente qualificada que toe ir trabalhar no Flamengo - destacou.
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Fred Luz ajudou a alavancar o Flamengo
Luz esteve à frente do cargo de CEO do Flamengo entre 2014 e 2018, participando do processo inicial que alavancou desempenho do Flamengo dentro e fora das quatro linhas. O executivo explica que esse movimento de atrair profissionais mais capacitados a, principalmente, pela possibilidade de dar estabilidade e projeção de carreira aos contratados, o que não acontece com frequência em clubes associativos.
O ex-CEO cita na entrevista situações onde profissionais são consultados para trabalhar em um clube e se deparam com um cenários de instabilidade, já comum no meio do futebol, e que dependem de contextos políticos vividos em cada uma das equipes, como os grupos eleitos a cada ciclo.
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- Quando você vê um profissional de 30 a 40 anos tarimbado no mundo empresarial, com casos para contar, e numa empresa grande, assim como os clubes, que são organizações complexas, é difícil chegar para ele e falar: “Tá afim de largar tudo e vir trabalhar no Flamengo? Vasco? Botafogo?”. E se o cara questiona qual o plano de carreira dele no clube, você responde o quê? Daqui a pouco tem eleições e troca tudo. O cara não vem - inicia o executivo.
Estabilidade das SAFs
Fred Luz aponta que a "estabilidade" apresentada pelo universo das SAFs chama a atenção dos profissionais que buscam atuar no meio do futebol com uma segurança maior do trabalho a longo prazo, além de elevar o nível do futebol brasileiro como um todo.
- O que está acontecendo com o movimento das SAFs? Não tem mais eleição. E não estou dizendo aqui que o modelo associativo tem que acabar, mas criou-se um ambiente onde você traz gente mais competente no futebol. E mais: a competição está mudando o sarrafo. As próprias associações vão ter que se mexer mais, porque quando você pega instituições bem organizadas, a tendência é esse mercado se profissionalizar, não pelo fato de ser profissional, mas por ter cultura de meta, objetivo e promoção para quem vai bem, além de punir quem vai mal - completou Luz.
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Novos projetos de SAFs no futebol brasileiro
Além dos clubes que já estão com as SAFs estruturadas, o futebol brasileiro tem agregado cada vez mais novos projetos de clubes-empresa no país. Luz foi uma das figuras que participou da estruturação da SAF do Coritiba, controlada pela empresa privada brasileira Treecorp, do mercado financeiro. O executivo afirmou que o processo de criação a também por analisar equipes "concorrentes" no mercado para entender de que forma a gestão irá funcionar e quais são os objetivos dela.
- Eu, como consultor de clubes, o que a gente faz quando chega num clube? Compara ele com clubes que achamos que são parecidos com ele. Quando chegamos no Coritiba, comparamos com o Athletico-PR, que está ali do lado. Olhamos também Fortaleza, Ceará, Bahia, e vimos várias oportunidades de melhoria para o Coritiba, e fomos lá atacar - explicou.
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E apesar de cada SAF ter um modelo próprio de gestão, que altera o tipo de investimento feito no clube e o perfil de atletas e profissionais, por exemplo, há um fato comum entre elas e que é fundamental para o funcionamento e sucesso do modelo no futebol brasileiro: o resultado em campo e a qualidade da gestão estão intimamente ligadas.
- Uma gestão eficaz consegue levar a instituição a esses resultados. E parece que estamos falando só do financeiro e receita, mas isso fala de futebol também. Como futebol é a principal fonte e interesse do torcedor, precisa ter uma gestão eficaz no futebol. E essa eficácia no futebol, apesar de não ser uma ciência exata, para mim, eu levo em consideração quanto se gastou para chegar lá. O cara que conseguiu o resultado gastando menos é melhor, eventualmente, do que o cara que gastou muito - completou Luz.
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