BRASÍLIA - O tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), declarou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ministro Alexandre de Moraes era bastante criticado, xingado e chamado de "desgraçado" por aliados de Bolsonaro.

Ele também confirmou que Moraes era classificado como o "centro de gravidade", ou seja, obstáculo a ser removido dentro do suposto plano de golpe de Estado em 2022. Cid foi ouvido nesta segunda-feira (9) como réu na ação penal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado. 

Questionado pelo advogado Celso Villardi, que representa o réu Jair Bolsonaro, sobre uma reunião com militares, em que o ministro Alexandre de Moraes teria sido apontado como “centro de gravidade”, Mauro Cid afirmou que o magistrado “foi muito criticado”.  

“O senhor foi muito criticado, e as críticas, os xingamentos que o senhor recebe aram por ali”, afirmou, durante depoimento ao STF, nesta segunda-feira (9). 

“Tinha xingamentos, ‘esse cara é um desgraçado’, coisas que o senhor já ouviu bastante por aí. Inclusive fotos de figurinhas, memes, essas coisas”, descreveu. 

Antes da resposta, Alexandre de Moraes riu e disse: “Estou acostumado, pode responder”. 

O tenente-coronel Mauro Cid foi o primeiro réu a depor nesta segunda-feira, primeiro dia de interrogatórios do chamado “núcleo 1” ou “núcleo crucial” da ação penal que apura tentativa de golpe de Estado.

Como Cid fechou acordo de colaboração premiada, os demais acusados têm o direito de falar por último. Ele é considerado peça-chave por ter sido um dos mais próximos auxiliares de Bolsonaro nos quatro anos de governo do ex-presidente, apontado pela Polícia Federal (PF) e Procuradoria-Geral da República (PGR) como líder do grupo que planejou um golpe.

Mauro Cid foi delator em investigação que mirou Bolsonaro  203y72

Mauro Cid foi assessor direto de Bolsonaro entre 2019 e 2022. Na função, ele era o “braço direito” do ex-presidente e atuava como uma espécie de secretário, atendendo, inclusive, a interesses pessoais de Bolsonaro. Ele circulava tanto no Palácio do Planalto, que é a sede istrativa do governo federal, quanto no Palácio da Alvorada, a residência oficial em Brasília. 

Cid tem carreira militar. Ele entrou no exército em 1996 e se formou na Academia Militar das Agulhas Negras em 2000. É filho do general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de Bolsonaro na turma de Artilharia de 1977 da Academia Militar das Agulhas Negras. 

Mauro Cid foi preso pela primeira vez em maio de 2023, em uma operação pelo esquema da suposta fraude em cartões de vacinação. O militar foi solto em setembro do mesmo ano, após acordo de delação premiada, mas voltou para a prisão em março de 2024 após o vazamento de áudios atribuídos a ele com críticas ao seu processo de colaboração (até então, sigiloso).  

Ele está em liberdade provisória desde maio de 2024, mas tem que cumprir medidas cautelares. Entre elas, o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de sair do país e de se comunicar com outros investigados. Na mesma época, o acordo de delação premiada de Cid foi questionado por suposta obstrução à Justiça, mas mantido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.  

Agentes de investigação usaram a colaboração de Cid para entender a articulação da suposta trama golpista. Um vídeo encontrado no computador do militar apreendido pela PF revelou, por exemplo, uma reunião em julho de 2022 em que Bolsonaro disse a seus ministros que era preciso “fazer alguma coisa” antes da ida dos eleitores às urnas. 

O tenente-coronel virou réu em 26 de março, no recebimento da denúncia do chamado “núcleo crucial” da trama, que inclui Bolsonaro. Na ocasião, o advogado dele, Cezar Bittencourt disse “como assessor do ex-presidente, ele tinha conhecimento dos fatos” e “cumpriu com o seu dever” de delator. 

Os crimes apontados ao ex-ajudante de ordens são os mesmos atribuídos a Bolsonaro e outros réus do núcleo político. São eles: tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado, envolvimento em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem chegar a 43 anos de prisão.