ESCÂNDALO

Base governista no Congresso planeja ofensiva contra vídeo de Nikolas sobre fraudes no INSS

Parlamentares querem ligar escândalo de descontos ilegais no órgão ao governo de Bolsonaro e destacar que investigações começaram na gestão Lula 

Por Ana Paula Ramos
Atualizado em 07 de maio de 2025 | 18:34

BRASÍLIA - Líderes da base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão preparando uma ofensiva contra o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o esquema de fraudes no INSS, divulgado na terça-feira (6). Em 15 horas, a postagem teve mais de 60 milhões de visualizações nas redes sociais. 

A preocupação é de que a postagem se transforme na polêmica do Pix, quando o parlamentar também divulgou um vídeo com informações falsas envolvendo a fiscalização das transferências. 

Além de evitar desgaste para o governo, a estratégia é ligar o escândalo do INSS ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já que as fraudes começaram em 2019. De acordo com relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), o número de entidades conveniadas para os descontos associativos cresceu em 2022, último ano da gestão Bolsonaro.  

No X, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, rebateu nesta quarta-feira (7) a publicação de Nikolas Ferreira. Além de atribuir as fraudes ao governo Bolsonaro, ela afirma que foi só no governo Lula que o caso foi investigado.

"Vamos desmascarar as mentiras que a oposição bolsonarista está espalhando nas redes: 1)Foi no governo Bolsonaro que quadrilhas criaram entidades fantasmas para roubar os aposentados, sem que nada fosse feito para investigá-las ou coibir sua ação no INSS. A maior parte das associações investigadas ou a atuar no governo Bolsonaro", diz a postagem.

Segundo a ministra, a gestão anterior não cumpriu a medida provisória de 2019, editada por Bolsonaro, que obrigava uma revalidação anual dos descontos, norma que acabou derrubada pelo Congresso, sendo estendido o prazo para 3 anos.

"Nem a Secretaria da Previdência nem o Ministério do Trabalho e Previdência do e o INSS do governo de Bolsonaro cumpriram a medida provisória de 2019 que exigia autorização individual para os descontos. 3)A medida provisória que cancelou de vez a exigência de autorização individual e verificada para os descontos foi aprovada no Congresso e sancionada por Bolsonaro em 2022. Não foi uma “coisa da esquerda”, como estão mentindo agora".

Em entrevista na semana ada, Gleisi já havia destacado que a investigação sobre o esquema de fraudes nos descontos começou no atual governo, pela CGU, atendendo uma determinação do presidente Lula, para apurar qualquer suspeita. 

"O que é preciso é que as coisas que Lula determinou sejam feitas, ou seja, continue-se a investigação e se aprofunda a investigação, porque o que nós estamos vendo agora é algo que não começou agora, é o que começou anteriormente, ou seja, desde 2019 tem problemas de irregularidades, quem que decidiu investigar foi o governo do presidente Lula, foi a Controladoria-Geral da União que fez o relatório, pegou dados do TCU e acionou a Polícia Federal." 

A ministra ainda minimizou a instalação da I (Comissão Parlamentar de Inquérito) do INSS no Congresso. Ela afirmou que a investigação pode se virar contra a própria oposição, pois o esquema de fraudes teria começado em 2019.   

Além dessa ofensiva pelos parlamentares da base, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) deve criar algum material informativo para destacar que as investigações começaram no atual governo, em auditoria da CGU, e se intensificaram graças à independência da Polícia Federal.  

Vídeo de Nikolas Ferreira incomodou o governo Lula

No vídeo de quase 6 minutos e meio, Nikolas Ferreira apresenta uma linha do tempo, alegando que o governo Bolsonaro apresentou uma Medida Provisória (MP) em 2019 para combater fraudes nos descontos do INSS. Ele também afirmou que, em 2022, "a esquerda se opôs" à lei. Em seguida, diz que os esquemas se intensificaram a partir de 2023, quando Lula assumiu a Presidência da República.  

No final, o parlamentar defende a criação de uma I (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os roubos aos aposentados. Ele solicita que a população envie mensagens ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), e ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União), pelas redes sociais para pressioná-los a instaurar a comissão. 

O deputado distorce uma informação sobre o valor movimentado na fraude, ao dizer que só em 2023, “35 mil (beneficiários) reclamaram de fraude” e que o valor movimentado é de R$ 90 milhões, mas essa quantia foi de empréstimos consignados liberados para aposentados e pensionistas ao longo de 2023.  

Na verdade, a CGU e a PF ainda apuram do valor total de descontos, o quanto foi devidamente autorizado e o quanto foi ilegal.