O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não descartou disputar o governo de Minas Gerais nas eleições de 2026, mas disse que, neste momento, "não é algo que a pela cabeça". Ele conversou com jornalistas da imprensa mineira nesta quinta-feira (9), em seu gabinete, em Brasília (DF). 

Pacheco também comentou sobre a dívida do Estado com a União. De acordo com ele, uma solução precisa ar por um diálogo entre o governador Romeu Zema (Novo) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O mineiro, inclusive, se colocou como um possível mediador dessa conversa.

"Na verdade, eu não tenho isso [eleição ao governo de MG em 2026] como uma meta ou um propósito. Eu tenho compromisso com o presente, nesse instante. Eu não posso desperdiçar o momento que Minas Gerais tem na Presidência do Senado e do Congresso Nacional. Eu não posso medir minhas ações com esse propósito futuro. Eu tenho que realizar o agora. O futuro a Deus pertence e nós vamos fazer uma avaliação", disse.

Ao ser questionado se aceitaria o pleito se for lançado com o apoio de Lula, ele declarou que outros nomes serão colocados nos próximos três anos, inclusive do campo de esquerda, e que Minas não pode "abrir mão de ter protagonistas políticos, que não sejam demagogos, e que possam fazer a política verdadeira".

Relação de Zema com o governo Lula

Pacheco avaliou que, “nesse momento, não há outra alternativa” para resolver o problema da dívida de Minas Gerais com a União a não ser um caminho de diálogo entre o governador Romeu Zema e o presidente Lula. O chefe do Executivo do Estado ainda não teve nenhum encontro com o petista desde o início da atual gestão federal, em janeiro deste ano.

“O Estado está com uma dívida muito alta que, uma vez não paga, nos últimos cinco anos ela se acumulou, nós precisamos dar solução a isso. E a única solução possível é na base do diálogo. É fundamental que o governador Zema tenha disposição de conversar com o presidente Lula, e que o presidente Lula tenha disposição de conversar com o governador Zema”, apontou.

O presidente do Senado frisou que o processo de diálogo precisa ser conduzido com “muita maturidade” e se dispôs a ser o interlocutor entre os dois, apesar de não ter relação próxima com Zema. Pacheco cobrou, ainda, que a bancada mineira de senadores e deputados federais e estaduais se una nesse objetivo e abandone a reação de “atribuir culpa” ou “criar arestas ou dificuldades”. “Que nós nos juntemos nesse momento, independente de linha ideológica, para poder dar solução a esse problema de Minas Gerais”, afirmou.

“O que está em jogo não é a vida política ou o futuro político de qualquer desses personagens. O que está em jogo é a vida de mais de 21 milhões de mineiros que vão ter menos estradas, que vão ter menos serviços públicos, que vão ver a Cemig [Companhia Energética MG] ser vendida, a Codemig [Companhia de Desenvolvimento Econômico de MG] ser vendida, para poder daqui a nove anos ter uma divida de mais de R$ 200 bilhões e se tornar um Estado ingovernável e de colapso”, apontou.

Dívida de Minas Gerais com a União

Atualmente, o total da dívida de MG com a União é de R$ 156,2 bilhões. Em função desse cenário de contas no vermelho, o governo estadual tem buscado aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) desde que Zema assumiu a gestão, em 2019. A data-limite para adesão ao projeto federal é 20 de dezembro deste ano. Mas há dificuldades na Assembleia Legislativa para conseguir aprovação de contrapartidas previstas pelo Ministério da Fazenda - uma delas justamente a privatização de companhias estatais, como a Codemig e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).

Se não conseguir viabilizar a aprovação da RRF, o Estado vai ter que desembolsar no próximo ano R$ 18 bilhões. Pacheco se dispôs a intermediar uma solução entre os governos Zema e Lula, e apresentou um projeto paralelo para a dívida que considera “impagável” e capaz de colapsar a situação fiscal de Minas. Segundo ele, é preciso primeiro aferir o valor total da dívida, estudando se há possibilidade de redução dos juros e correções.

“O programa [RRF] pode resolver em um primeiro momento, mas nós temos uma constatação. Depois de oito ou nove anos de recuperação fiscal, nós vamos ter alguns benefícios de istrar até lá. Mas daqui a nove anos nós vamos nos deparar com uma dívida que não vai ser mais de R$ 160 bilhões, vai ser de mais de R$ 220 bilhões. Portanto, nós estamos adiando o problema com esse regime. Além do que gera um sacrifício aos servidores públicos”, pontuou.

Pacheco também defende que os ativos estaduais não sejam entregues à iniciativa privada, em processo de concessão (como prevê o RRF), a preços abaixo dos de mercado. “Se há uma iniciativa do governo do Estado de poder vender ativos como Cemig, Codemig e Copasa, eventualmente isso pode ser dado em dação em pagamento à União. Ou seja, manteria como patrimônio do povo mineiro, com a possibilidade de redução do valor da dívida e de créditos que possam ser utilizados como pagamento, com o compromisso da União de serem revertidos a Minas Gerais”, explicou.

“Seria a aceitação por parte da União que os personagens, Estado e União, ativos estaduais, ao invés de serem entregues à iniciativa privada eventualmente por preços subvalorizados, que a União tenha uma compreensão do verdadeiro valor desses ativos, e isso servir como parte do pagamento da dívida, permitindo então que esses ativos continuem públicos”, completou.

Pacheco disse que conversou com Lula na última sexta-feira (3) sobre o assunto e que há disposição do governo federal em articular uma solução a Minas Gerais, com necessidade de participação ativa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Pacheco afasta rumores de assumir cargo em tribunal

Com seu nome eventualmente ventilado para cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ou do Tribunal de Contas da União (TCU), Pacheco declarou: “O único lugar que eu me vejo no futuro em um tribunal é na cadeira de advogado, que é a profissão que eu sei exercer”.

Alexandre Silveira e a eleição em Minas Gerais

Ainda sobre a eleição em MG em 2026, o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, é um nome "evidentemente proeminente" e "que tem todas as condições de ocupar esse espaço político", na avaliação de Pacheco. O presidente do Senado falou sem confirmar qualquer intenção e desviando de especulações sobre a disputa estadual.