BRASÍLIA — A quinta hora da sessão do Conselho de Ética da Câmara para analisar o pedido de cassação do mandato do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi entrecortada por brigas, que, entretanto, não impediram o avanço da reunião. A confusão começou quando o deputado Delegado Fabio Costa (PP-AL) apresentou um requerimento para encerrar a discussão sobre o parecer do relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), impedindo que os outros deputados inscritos falassem aos microfones da sessão.
Em um gesto rápido, o presidente do Conselho, deputado Leur Lomanto Júnior (União Brasil-BA), abriu o de votação enquanto parlamentares de oposição o apoiavam logo atrás dele na mesa do colegiado. A presença dos deputados e a recusa do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em iniciar a ordem do dia interrompendo a sessão do Conselho de Ética gerou revolta entre aliados de Glauber.
Veja o vídeo da confusão:
Os ânimos se acentuaram no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que tenta acelerar a votação do pedido de cassação do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ) nesta quarta-feira (9). Deputados de oposição, entre eles Nikolas Ferreira (PL-MG) e Zucco (PL-RS) compareceram à sessão… pic.twitter.com/553fVYcSm2
— O Tempo (@otempo) April 9, 2025
Glauber Braga é alvo de um processo de cassação pelo episódio em que reagiu aos ataques de um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) e o expulsou da Câmara dos Deputados a chutes e pontapés. O episódio aconteceu em 16 de abril de 2024, e a representação contra Glauber chegou ao Conselho de Ética pelas mãos da bancada do Partido Novo. O relator do processo, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), apresentou no início deste mês um parecer favorável à cassação do mandato de Glauber.
A posição do relator gerou estranhamento na bancada do PSOL. Interlocutores haviam dito a membros do partido que Magalhães sugeriria uma punição mais branda a Glauber Braga — prevendo uma suspensão por três meses. É dito nos bastidores que o relator optou por mudar a punição e sugerir a cassação pouco antes da data marcada para apresentação do parecer.
A realização da sessão nesta quarta-feira foi outro revés sofrido pelo PSOL, que articulava até terça-feira (8) à noite o adiamento da reunião. A líder do partido, Talíria Petrone (PSOL-RJ), contava com o apoio manifesto dos líderes de PSD, Antônio Brito (BA), e PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), para não dar quórum e evitar que a sessão acontecesse. A articulação não deu certo, e a sessão começou no início da tarde, sendo marcada por apelos de deputados do PSOL e aliados de PT e PSB.
Eles pediam que Paulo Magalhães reconsiderasse o pedido pela cassação e abrisse o diálogo com as bancadas. Outros lembraram o episódio em que ele próprio agrediu um escritor na Câmara dos Deputados há 24 anos. "Mudar de ideia não é demérito. O senhor não sairá menor. O senhor sairá maior. Reconsidere em uma negociação por mais uma semana, pelo menos, e se coloque no lugar de uma pessoa que é alvo de uma dor profunda e de uma perseguição permanente como é o Glauber. Quem no lugar do ser humano Glauber não se sentiria injustiçado?", questionou o deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ).
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) também contestou a proporcionalidade da punição sugerida por Paulo Magalhães. "Gostaria de sustentar que o parecer precisaria ser revisado à luz do princípio da proporcionalidade sob pena de cometermos uma injustiça. Queria que o senhor reconsiderasse", declarou. Ainda criticando a dureza da pena pedida pelo relator, os aliados de Glauber lembraram que os últimos parlamentares cassados foram Flordelis, condenada pelo homicídio do marido, e Eduardo Cunha, sentenciado à prisão por corrupção iva e lavagem de dinheiro.
O apelo central da bancada do PSOL e de aliados dirigido ao relator era que ele concedesse mais tempo para discussão do parecer ao invés de colocá-lo para votação. "Tenho conversado com os líderes e tenho sentido a possibilidade real de sairmos daqui com uma solução que não manche a história desse Conselho e dessa Casa para garantir, com diálogo, que a democracia prevaleça. Peço mais tempo", pediu a líder do PSOL, Talíria Petrone.