O embaixador brasileiro na Itália, Renato Mosca, explicou que existem obstáculos legais para a prisão da deputada federal afastada Carla Zambelli (PL-SP) em território italiano. A declaração foi feita nesta terça-feira (10), em entrevista à Folha de S. Paulo. A parlamentar foi condenada pelo STF a 10 anos e 8 meses por suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça.

Zambelli deixou o Brasil após condenação, ando pelos Estados Unidos antes de seguir para a Itália. Ela entrou no país europeu usando aporte de dupla cidadania, pouco antes da Polícia Federal brasileira solicitar à Interpol a inclusão de seu nome na "difusão vermelha".

"Mesmo que haja o conhecimento de que ela estaria em determinado local, dentro de uma casa, não há mandado de busca. A polícia [italiana] não pode entrar dentro de uma casa para retirá-la e prendê-la. Ela terá de ser presa no momento em que estiver em local público. Isso dificulta a situação, mas não há outro caminho", disse o embaixador.

A entrada da deputada na Itália ocorreu sem impedimentos nos controles migratórios do aeroporto de Roma. Atualmente, não há informações precisas sobre seu paradeiro no país europeu.

As autoridades brasileiras mantêm contato com homólogos italianos por meio de um adido da Polícia Federal. A representação diplomática brasileira também dialoga com os ministérios das Relações Exteriores e do Interior da Itália.

Mosca informou que existem 14 processos de extradição em tramitação na Itália desde 2024. Quatro desses casos envolvem pessoas com dupla nacionalidade. "Neste ano já tivemos a extradição de um ítalo-brasileiro. A cidadania italiana não torna 'intocáveis' as pessoas em dívida com a Justiça", afirmou.

A Constituição italiana permite a extradição de cidadãos quando há previsão em convenções internacionais, como o acordo bilateral entre Brasil e Itália vigente desde os anos 1990.

O processo de extradição só poderá ser iniciado após a detenção de Zambelli. O embaixador prevê um processo longo, com avaliações jurídicas e políticas, que pode durar meses até uma decisão final.

Apesar da possibilidade de Zambelli buscar apoio de lideranças conservadoras europeias, incluindo a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, o diplomata acredita que eventuais afinidades ideológicas não influenciarão o processo.

"Há uma série de elementos que contribuem para que esse caso da deputada tenha um desfecho favorável. Não ao Brasil ou à Itália, mas à Justiça", declarou Mosca. Ele também minimizou a possibilidade de interferência política: "Não vejo afinidade entre um governo dedicado ao combate ao crime e uma pessoa condenada com amplo direito de defesa por crimes tipificados. Crimes cibernéticos, de invasão de sistemas, têm máxima relevância na Itália."