REPRESENTATIVIDADE

Turbante não é um simples enfeite fe5s

Agora, os turbantes são sinônimo de conexão com esse ado, uma forma de honrar a história negra e lembrar que há diversidade no país 2wf56

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 09 de maio de 2025 | 06:00
 
 
Tatiana Lagôa, autora da coluna Representatividade Foto: Fred Magno/ O TEMPO

A lei é para todos, e a Justiça é cega porque trata todos como iguais. É o que dizem por aí. Mas e quando uma advogada é barrada na portaria do Tribunal de Justiça em função do uso de turbante? Eu sei que, falando assim, parece ser algo hipotético. E eu bem queria que fosse. Mas o caso é real e aconteceu em Minas Gerais, mais especificamente na capital, onde as ideias são mais abertas e há maior diversidade. Também é o que dizem. 

A vítima da vez foi a advogada Rita Galvão, presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da OAB-MG. Quando ela chegou ao tribunal para mais um dia de trabalho comum, foi impedida de entrar no local por seguranças. Foi pedido que ela retirasse o ório. Se ela não tivesse letramento racial suficiente, talvez nem se ofendesse e apenas seguisse o fluxo. Mas acontece que ela denunciou. 

Em entrevista dada ao repórter Vitor Fórneas, de O TEMPO, ela disse: “ou um filme na minha mente: eu, que trabalho para garantir que todos possam ocupar os espaços, estava tendo que enfrentar tal situação. Se eu, que sou advogada, que tive o aos estudos, tenho que ar por isso, imagine as pessoas de matriz africana que não”.

Uma questão que faz todo sentido. Já noticiamos em outros momentos pessoas negras sendo questionadas pelo uso dos fios naturais, que “não são vistos como adequados para determinados ambientes”, dizem por aí. Também não é novidade ataque ao uso do turbante, que é mais um ícone de negritude visto como inadequado por uma parte da população, que o considera apenas uma peça ligada à estética. 

Talvez até esse ponto do texto você não veja motivos para o incômodo. Mas é preciso contextualizar o uso dele por negros sobreviventes do genocídio de pretos no país. A peça representa uma reconexão com a ancestralidade. Algo mais difícil para a população negra, se pensarmos que nossos anteados foram explorados à exaustão e viveram no Brasil impedidos de contato com o próprio povo. O turbante, eu preciso dizer, tem história em diversas culturas e partes do mundo. Posso citar Oriente Médio, África, Ásia e Índia como exemplos. Mas, para cada local, o ório tinha um significado que podia estar atrelado à tradição, à classe social ou à religião. No caso da África, ele era usado para marcar identidade étnica. 

No Brasil, formado com forte influência africana, o uso do turbante era para ser melhor entendido. As mulheres negras que vieram no tempo da escravização continuaram usando a peça como uma forma de conexão com a própria cultura e resistência no contexto de permanente tentativa de apagamento da cultura afro. 

Agora, os turbantes são sinônimo de conexão com esse ado, uma forma de honrar a história negra e lembrar que há diversidade no país. Em religiões de matriz afro, o turbante, chamado de “ojás”, também está presente. E diante de tanto significado, é preciso que haja compreensão de que ele não é apenas um enfeite, e sim merece, no mínimo, respeito. Assim como quem o usa.