REGINALDO LOPES

Uma história sobre o “livro de Tiradentes” 3n31l

Conjurados sonhavam em constituir uma república 251i5h

Por Reginaldo Lopes
Publicado em 15 de abril de 2025 | 07:00
 
 
Conjurados sonhavam em constituir uma república Foto: Ane Souza

Quando se faz uma viagem longa, você tem que dar sorte de ter uma pessoa agradável como ageiro ao seu lado. Na semana ada, em viagem de trabalho para os Estados Unidos, fui contemplado ao ser acompanhado do cordial senador Esperidião Amin (PP-SC), um dos políticos mais experientes em atividade no país. Entre várias prosas, ele me contou uma história interessante sobre sua relação com a história de Minas Gerais.

Em 1984, Amin era governador e recebeu um pedido especial do seu colega Tancredo Neves, que governava nosso Estado. Por meio de uma carta escrita pelo então secretário de Cultura, José Aparecido de Oliveira, o mineiro reivindicava a devolução de um livro que pertencera a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e havia sido doado à Biblioteca de Florianópolis por um antigo diretor da Biblioteca Nacional. Trata-se do compêndio “Recueil des Loix Constitutives des États-Unis de l’Amérique” (“Das Colônias Inglesas Confederadas sob o Nome de Estados Unidos da América Setentrional”). A obra contém os documentos constitucionais fundadores daquela nova república nascida no norte do continente.

Sabendo da importância histórica daquele documento para a memória do nosso povo, o catarinense cuidou dos trâmites legais para viabilizar a devolução, e hoje o exemplar encontra-se no arquivo do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. A viagem de volta para Minas foi apenas mais uma daquele que ficou conhecido como “Livro de Tiradentes”. A edição foi publicada em Paris em 1778, num esforço diplomático da nova nação que surgia para consolidar-se no cenário mundial. Segundo o historiador britânico Kenneth Maxwell, duas cópias da publicação foram levadas para Minas no mesmo ano por José Álvares Maciel, que fazia seus estudos na Europa. Aquela seria mais uma evidência de que os insurgentes mineiros possuíam e inspiravam-se nos textos-chave da revolução americana.

Historiadores contam que a coletânea estava sempre à mão de Tiradentes, que não falava francês, mas usava as ideias ali contidas nas andanças doutrinárias entre as Minas Gerais e o Rio de Janeiro. O exemplar histórico contém várias anotações, marcadas em lápis e tinta. Elas mostram como a história da independência das 13 colônias britânicas da América do Norte, que formaram os Estados Unidos, influenciou a conspiração mineira, por meio da disseminação entre os inconfidentes dos ideais republicanos contidos naquela coletânea.

Mergulhar nessa história levou-me a refletir sobre como nosso país estaria desenvolvido se a insurreição dos mineiros tivesse logrado êxito, como aconteceu nos Estados Unidos. Se, ainda no final do século XVIII, o Brasil tivesse se constituído numa república, sob os ideais libertários dos líderes da conjuração.

 Homens que já estavam ligados e conectados com as novas ideias que circulavam entre a América do Norte e a Europa. Ideologias que viriam a culminar em movimentos, como a independência norte-americana e a Revolução sa, e que modificaram a ordem mundial.

Ao pousar em solo estadunidense, impossível não comparar os acontecimentos e ensinamentos descritos no “Livro de Tiradentes” e a realidade atual desse país. Como os ideais de liberdade estão sendo usurpados pelo presidente Donald Trump. A democracia conquistada pelos revolucionários que declararam independência da Inglaterra em 1776 nunca esteve tão ameaçada. Assustado, o mundo volta seus olhos para os próximos movimentos do presidente dos Estados Unidos, que tem feito tão mal aos povos do planeta, inclusive aos seus patriotas.