Habemus Papam
“Sim, eu vi a fumaça branca ao vivo”
Sim, eu vi a fumaça branca ao vivo. Há situações que alguns chamam de sorte, outras dizem que tinha de acontecer. Realmente eu não sei dizer, mas sei que fiz bodas de prata, e finalmente pudemos, eu e meu marido, desfrutar de uma lua de mel que não tivemos quando nos casamos, então fomos à Grécia e à Itália.
Amo museus, e meu marido comprou, antes de irmos, entrada para alguns, entre eles, o Museu do Vaticano.
Entrada comprada para o dia 8 de maio de 2025, coincidentemente o dia em que ocorreu o Conclave. Não projetamos, não imaginamos, mas estávamos lá. Com a Capela Sistina fechada, andamos pelo magnífico museu e, na saída, fomos ver a praça de São Pedro, já bem cheia de fiéis. Foi quando eu disse ao meu marido que queria ficar um pouco, sentir a energia das pessoas, conversar.
Importância religiosa e política do ato
Vi bandeiras de inúmeros países, mas ver a da Palestina e a de Israel no mesmo evento chamou atenção. Conversei com algumas pessoas, olhei para um casal, sorrimos, perguntei de onde eram, e disseram que eram americanos – ela, filha de mexicanos; ele, de família tradicional. Perguntei se era acaso a presença deles ali, e me disseram que não, foram para ver o Conclave. São muito católicos, presumi, quando David (esse era o nome dele) me disse que ela, sua companheira, era muito católica e que ele estava lá por ela, mas também pela importância política do ato. Disse que estar ali era ser parte de um momento importante da história.
A resposta pesou. Pensei que eu também estava ali. Olhei para o lado e havia pessoas de todas as fisionomias possíveis: brancos, pretos, indígenas, com cabelos cacheados, crespos e lisos, loiros ou castanhos. Havia religiosos, mas também ateus, que acreditavam que o papa poderia dizer algo que ajudasse a cessar uma guerra, como um ucraniano me relatou. Parecia uma festa em que as pessoas se uniam não só por fé, mas também por esperança.
O tempo todo havia uma gaivota branca no teto da Capela Sistina. Depois, mais dois pássaros apareceram ao lado da chaminé – um bebê, sendo alimentado pela mãe. A fumaça branca saiu, vi as pessoas comemorando, felizes, abraçando desconhecidos, um momento de paz indescritível.
As palavras de Leão XIV
Uma hora depois, estava a Guarda Suíça em marcha, uma segunda guarda e a praça São Pedro cada vez mais cheia. Leão XIV, o papa, fala, emocionado, sobre paz, união, defesa dos que precisam, além de diálogo e encontro entre os povos.
Quando o discurso termina, vejo um padre com a bandeira do Brasil nas costas. “Quem foi o escolhido?”, eu pergunto. Ele me diz que era um americano, um missionário, que havia escolhido o nome “Leão” em homenagem a Leão XIII, que havia lutado contra o trabalho quase escravo nas fábricas no período da Revolução Industrial. “Um humanista”, ele disse. Olho para o lado, e freiras se abraçam e dizem em espanhol: “Un misionero, finalmente!”. É um homem como nós, penso, mas, se é um missionário, deixou o conforto do lar para ajudar a quem precisa. Então, desejei ali que ele saiba realmente usufruir de todo o poder que agora tem em favor de quem precisa.