O governo dos Estados Unidos anunciou nesta quinta-feira (10) que as tarifas adicionais sobre produtos chineses serão de 145%, uma decepção para os mercados financeiros, que ainda alimentavam esperanças de uma desescalada na guerra comercial iniciada por Donald Trump.

Na véspera, o presidente norte-americano fez uma guinada de 180 graus para concentrar o ataque na China e dar um pequeno alívio aos demais parceiros comerciais dos Estados Unidos que, apesar disso, continuam sujeitos a tarifas aduaneiras adicionais de 10% sobre suas exportações para a maior potência mundial.

Diante da decisão de Pequim de revidar, Trump anunciou na quarta-feira que a sobretaxa sobre os produtos chineses será de 125%.

Nesta quinta-feira, a Casa Branca esclareceu em um decreto que isso representa, na verdade, um aumento das tarifas aduaneiras para 145%, já que os 125% se somam aos 20% aplicados à China no contexto da luta contra o tráfico de fentanil, um opioide sintético que causa estragos nos Estados Unidos.

E esclarece os termos: Tarifas adicionais de Trump sobre produtos chineses chegam a 145%. Ficam isentos, por exemplo, os semicondutores. E essas tarifas se somam às que já estavam em vigor antes de Trump retornar à Casa Branca em janeiro.

As bolsas norte-americanas abriram em baixa e continuam em queda livre: por volta das 16h10 GMT (13h10 de Brasília), o Dow Jones perdia 4,20%, o Nasdaq -5,78% e o S&P 500 -4,71%.

O petróleo e o dólar também caem em meio ao temor de uma desaceleração da atividade econômica. O ouro atingiu um novo recorde histórico.

Os mercados asiáticos e europeus, no entanto, subiram após a queda do dia anterior (+9% em Tóquio, +4,53% em Frankfurt, +3,83% em Paris).

"Em pé de igualdade"

Isolada em sua luta contra a istração norte-americana, Pequim continua enfrentando Washington. Promete "lutar até o fim", sem, no entanto, fechar a porta para um acordo.

"A porta está aberta às negociações, mas esse diálogo deve ocorrer em pé de igualdade e com base no respeito mútuo", advertiu o Ministério do Comércio chinês.

Enquanto aguarda um possível acordo, Pequim anunciou que reduzirá o número de filmes norte-americanos exibidos em seu território.

Depois que Trump suspendeu por 90 dias suas chamadas "tarifas recíprocas" para quase 60 parceiros comerciais, incluindo a União Europeia, o bloco europeu suspendeu sua resposta para "dar uma chance às negociações", segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Caso as negociações não avancem, a UE colocará em vigor as contramedidas anunciadas sobre os produtos norte-americanos.

O principal assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, declarou à CNBC que a taxa mínima universal de 10%, que entrou em vigor no sábado, provavelmente será mantida.

Segundo ele, Washington precisava "criar pressão suficiente" sobre seus parceiros para repatriar as atividades industriais para os Estados Unidos.

"É outro mundo"

Nesta quinta-feira, a Asean, bloco de dez países do sudeste asiático, comprometeu-se a "não impor medidas de retaliação" contra os Estados Unidos.

O Vietnã, atingido por uma tarifa de 46%, também afirmou que comprará mais produtos norte-americanos em troca de um acordo.

Segundo Donald Trump, mais de 75 países já demonstraram interesse em negociar com os Estados Unidos.

Na noite de terça-feira, Trump disse que muitos líderes estrangeiros estão "beijando sua bunda" para chegar a um acordo.

Mas, segundo o economista e prêmio Nobel Joseph Stiglitz, os países não sabem "como negociar" com os Estados Unidos porque "não há nenhuma teoria econômica por trás do que ele [Donald Trump] está fazendo".

"É outro mundo", comentou ele em entrevista ao programa independente Democracy Now!

A ofensiva tarifária obriga uma movimentação no cenário comercial.

A UE anunciou nesta quinta-feira que os 27 países-membros iniciarão negociações com os Emirados Árabes Unidos para um acordo de livre comércio.