O ex-deputado estadual e ex-vereador de Uberlândia Felipe Attiê assumiu a presidência da Fundação Ezequiel Dias (Funed) há cerca de um mês, mas já é alvo de críticas dos servidores do órgão ligado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Conforme apurou O TEMPO, parte dos técnicos da Funed se incomoda com a falta de vivência de Attiê no SUS. Em conversa com a reportagem, ele rebateu os julgamentos negativos e disse que “muitas denúncias” vão chegar à imprensa durante sua gestão, pois “os acomodados, os que não querem trabalhar, não querem produzir” e dificultam a “recuperação do tempo perdido” pela Funed com as istrações anteriores.

Outra crítica dos servidores diz respeito a um prédio da fundação que está escorado, mas ainda abriga funcionários no seu primeiro andar. Trata-se do edifício onde está instalada a Divisão de Vigilância Sanitária (Divisa) da Funed. Lá funciona o Instituto Octávio Magalhães, que trabalha com pesquisa no âmbito da saúde pública.

Comunicações internas entre servidores da fundação, às quais a reportagem teve o, mostram a reação de Felipe Attiê diante da situação do prédio. Ele revogou o teletrabalho de toda a Divisão de Engenharia e Infraestrutura por conta do problema. 

“Diante das necessidades latentes por intervenções de engenharia nas áreas produtivas, onde se destaca o escoramento do prédio da Divisa, dentre outros reparos e obras em instalações da instituição, revogo o teletrabalho na modalidade parcial para todos os servidores em exercício na Divisão de Engenharia e Infraestrutura”, escreveu Attiê em memorando assinado em 17 de março.

Em nova comunicação interna na última segunda-feira, o chefe da Divisão de Engenharia e Infraestrutura da Funed, Pedro Paulo Albuquerque Polastri, informa os servidores sobre a suspensão do teletrabalho. No texto, ele fala sobre a situação do prédio. 

“Devido à necessidade urgente de conclusão do projeto de obra no prédio da Divisão de Vigilância Sanitária (Divisa), a presidência decidiu suspender temporariamente o teletrabalho em nossa divisão. A suspensão se estenderá até que o Serviço de Projetos e Obras finalize o Termo de Referência para contratação da obra. A decisão foi tomada levando em consideração a importância do trabalho que desempenhamos na Funed e a necessidade de concluir esse projeto prioritário no prazo mais curto possível”, publicou. 

Apesar do uso do termo “necessidade urgente” para concluir a obra do prédio em questão “no prazo mais curto possível” por parte do servidor, Felipe Attiê, em conversa com O TEMPO, garante que não há riscos para os funcionários públicos que ainda trabalham na estrutura. 

“Tem laudo emitido pela empresa ZR Engenharia. Está escorado provisoriamente. Na verdade, poderia trabalhar até sem o escoramento, correndo risco. Com o escoramento é zero (de chance de incidente). Eles estão trabalhando há quatro anos embaixo”, disse Attiê. 

Em nota, a fundação reforçou a segurança da edificação escorada. “Os servidores não estão trabalhando em um local de risco. O laudo emitido pela empresa ZR Engenharia, para avaliar a estrutura da edificação, recomendou, em 2019, a instalação de um sistema de escoramento, de forma a restaurar as condições de segurança da edificação. O projeto de escoramento metálico foi elaborado por empresa contratada pela Divisão de Engenharia e Infraestrutura (DE) da Funed e está sob constante manutenção e conferência por parte da DE”, esclareceu. 

A fundação também informou que o termo de referência para contratação de empresa para efetuar o escoramento definitivo do prédio deve acontecer “ainda em abril”. “A contratação será realizada no sistema pela modalidade de pregão. Sendo assim, não é possível estimar o prazo para encerramento do processo de licitação, uma vez que pode haver recursos”, pontuou a Funed.

Teletrabalho causa desgaste 376j19

Outro ponto reclamado por servidores da Funed que conversaram com a reportagem é a convocação de toda a divisão de engenharia para o trabalho presencial. Há um entendimento interno de que o teletrabalho funciona para parte do setor, que não precisa prestar serviços de engenharia in loco. Além disso, há relatos de problemas de infraestrutura que dificultam as atividades presenciais.

Em memorando enviado à presidência da Funed em 20 de março, o chefe da divisão Pedro Paulo Albuquerque Polastri pontua sobre a demanda dos servidores. “Informamos que existem problemas de logística para o retorno de todos os funcionários, tais como a escassez de computadores e estações de trabalho disponíveis. Destacamos que, nos meses de novembro e dezembro, a Divisão de Engenharia trabalhou presencialmente e não foi observado incremento de produtividade em relação ao período de teletrabalho; ao contrário, experienciamos um período de intenso fluxo de pessoas, que prejudicou o foco em tarefas e resultados”, escreveu. 

Sobre as alegações, a Funed informou à reportagem que a convocação “se deu pelo entendimento da gestão quanto à necessidade de avaliar os desafios e as demandas atuais, os atrasos nos serviços ligados à área e a necessidade de reorganização de processos e atividades, principalmente no que diz respeito ao portfólio de obras”. 

Já Felipe Attiê, presidente da fundação, disse à reportagem que a decisão é em caráter provisório, mas que partiu por um entendimento da gestão dele. 
“O teletrabalho não é um direito do servidor, mas um estado colocado pela pandemia. É uma decisão gerencial minha e dos meus subordinados. Alguns lugares funcionam (bem) com o teletrabalho, mas eu não tenho como colocar a indústria em teletrabalho”, rebateu.