Igualdade e união

Conheça quem são os Yanomami, seus modos de vida e relações 1z123f

Considerados caçadores-agricultores, povo Yanomami se divide em mais de 384 aldeias em Roraima 57573

Por Aline Diniz e Cristiana Andrade
Publicado em 14 de fevereiro de 2023 | 23:30
 
 
Os Yanomami são considerados coletivistas, patriarcais, mas mantêm suas individualidades - Foto: Fred Magno/O Tempo Foto: Fred Magno/ O Tempo

Não há uma só definição para o povo Yanomami. Eles são vários e se dividem em muitas comunidades, algumas, inclusive, completamente desconhecidas. Em Roraima, nas proximidades de Surucucu, o líder dos indígenas é chamado de “tuxaua” – que é o morador mais velho da aldeia. É ele quem divide as tarefas, antes mesmo do amanhecer, e coordena a caça, a coleta e a agricultura. Os Yanomami acreditam fortemente na igualdade entre as pessoas. Cada comunidade é independente das outras, e eles não reconhecem “chefes”. As decisões são tomadas por consenso, após longos debates, em que todos têm o direito à palavra.

 

Porém, segundo uma liderança indígena ligada à Funai, que pediu anonimato, apesar de o regime desse povo ser patriarcal, o tuxaua ouve a comunidade, inclusive as mulheres mais velhas. “O homem é quem tem a voz, mas as mulheres mais velhas ajudam. Elas dão ideias sobre o que caçar e participam dos diálogos”, conta. Quando o líder vai rear as tarefas, o momento mais parece um diálogo do que uma imposição. Apesar de haver um líder, os Yanomami são coletivistas.

 

Inserido 100% na bacia do rio Negro e no bioma amazônico, o Território Indígena Yanomami (TIY) é habitado por oito povos – isolados e não isolados. As comunidades estão espalhadas em mais de 9,6 milhões de hectares, demarcados legalmente pelo governo federal em 1992. Os indígenas não isolados no TIY são os Yanomami e os Ye’kwana, divididos em 384 aldeias, segundo dados do Centro de Operação de Emergências Yanomami (COE), criado em 20 de janeiro, por meio da portaria de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) para a região. O COE está sob a aba do Ministério da Saúde.

 

Entre os seis grupos isolados, apenas um está confirmado. “Quando se fala de grupos isolados, quer dizer que o grupo não tem nenhum contato regular com a sociedade não indígena. A maior parte nunca viu um não indígena. Acreditamos que esses outros cinco grupos habitem o TIY com base em vestígios e relatos dos outros povos que já mantêm relação com a sociedade não indígena”, explica o geógrafo e pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA) Estêvão Benfica Senra.

 

Crescimento populacional 2s2k6u

 

As aldeias Yanomami estão espalhadas entre municípios dos Estados de Roraima e do Amazonas – Alto Alegre (RR); Amajari (RR); Barcelos (AM); Carcaraí (RR); Iracema (RR); Mucajaí (RR); Santa Isabel do Rio Negro (AM); e São Gabriel da Cachoeira (AM). A população no TIY é de 31.007 indígenas. Os dados são do COE.

 

Tarefas são divididas por gênero 3r1o6j

 

Como na maioria dos povos amazônicos, as tarefas são divididas por gênero – homens caçam; mulheres cuidam da agricultura. Os homens saem munidos de arco e flecha para acertar animais como pacas e porcos-do-mato, macacos e tatus. Muitas vezes, usam o curare (extrato de planta) para envenenar suas presas. Embora as caças equivalham a apenas 10% da alimentação Yanomami, a prática é bastante prestigiada, e a carne, muito valorizada por todos. Uma curiosidade é que nenhum caçador come a carne do animal que matou. Ele a compartilha entre amigos e familiares e, em troca, receberá a carne de outro caçador. Encarregadas das roças, as mulheres plantam banana, mamão, cana, mandioca, inhame, cará e pupunha. Um forte aspecto na cultura Yanomami é o artesanato – eles tecem redes e balaios, usados para carregar alimentos ou na troca com outras aldeias. As mulheres fazem ainda adereços para o embelezamento. Sobre as pinturas que alguns fazem no corpo, a liderança da Funai revela que os símbolos têm relação com a proteção individual de cada um. (AD)

 

“Shabonos” abrigam famílias e fogueiras (H2)

 

Conhecida como uma sociedade de caçadores-agricultores, a terra para os Yanomami tem relevância ímpar, pois condiciona todas as atividades sociais a ela. Esse povo vive em grandes casas comunais circulares, chamadas de “yanos” ou “shabonos” – algumas podem acomodar até 400 pessoas. A área central é usada para atividades coletivas, como rituais, festas e jogos. Embora haja dados compilados, o número de indígenas que ocupam as aldeias varia de acordo com a região.

 

A shabono é erguida com folhas de palmeiras e madeira. O chão é de terra batida, e as estruturas em madeira abrigam redes que são agrupadas de maneira piramidal. Os grupos familiares se mantêm unidos, e os mais novos ganham redes “em cima” dos mais velhos. O número de crianças por família, em geral, é grande.

 

As aldeias são construídas em formato circular e cônico ou retangulares. A maneira como convivem essas aldeias, entretanto, respeita regras estabelecidas por todo o território. O espaço de floresta usado por cada casa-aldeia Yanomami pode ser descrito como uma série de círculos , que delimitam áreas de uso de modos distintos”, diz trecho do material do ISA disponível no site da organização.