Entrevista

Sydney Possuelo, ex-presidente da Funai, defende que haja mais recursos

Indigenista esteve à frente da fundação na época da demarcação do território Yanomami; ele destaca a importância da manutenção das ações para salvar esses povos indígenas

Por Cristiana Andrade
Publicado em 14 de fevereiro de 2023 | 23:30

O que ocorreu para a situação dos Yanomami chegar a essa calamidade?

A Funai vem ando por uma situação delicada há anos, mas foi completamente desmontada. Eles não têm gente, dinheiro, nem pessoal de campo. Povos mais distantes e menos aculturados, como os Yanomami, dependem exclusivamente da natureza. Se destruímos seu habitat, eles sofrem e adoecem. 

 

O que deve ser feito de imediato para socorrê-los? 

O socorro emergencial já está sendo feito. O importante é que essa ação militar não seja ageira. É preciso recuperar a saúde dos índios, suas grotas, e elaborar um plano para diminuir o mercúrio dos rios.

 

Em médio e longo prazo, o que deve ser feito?

De cara, tem de ser instalado um sistema eficaz sobre a terra indígena. O Brasil tem um ótimo sistema de vigilância, com satélites, e todos os equipamentos já existem. É uma questão de decisão política.

 

A sociedade brasileira, em geral, parece não reconhecer a temática indígena como relevante e como sua. 

Os índios necessitam que o brasileiro seja informado sobre sua situação. Historicamente, essa relação nunca foi 100% boa. Os vários governos brasileiros – alguns piores, outros menos ruins –, todos sempre mantiveram distância e menosprezo aos povos, como até hoje. A sociedade brasileira não absorve os povos autóctones e coloca sobre os índios uma série de pechas, como preguiçosos e empecilhos para o desenvolvimento. Essa narrativa, reforçada ao longo dos anos, é uma falta de respeito com essas pessoas que estavam aqui muito antes de nós. Então os desenvolvimentistas reclamam do indígena ficar na terra e não produzir, não arar, não explorar. Inventamos várias mentiras sobre os povos indígenas para justificar nosso olhar sobre eles. No fim, a questão é sobre a terra.

 

O que o senhor acha de, pela primeira vez, o Brasil ter um ministério para indígenas e mulheres à frente dessa pasta e da Funai?

Fiquei emocionado. Me emocionou também a posse do presidente Luiz Inácio, subindo a rampa do Planalto ao lado do cacique Raoni. São acontecimentos importantíssimos, que dão início a uma nova página na história dos povos indígenas brasileiros. Espero que dê tudo certo.