TELEVISÃO

'Odete é o retrato de uma classe que despreza o Brasil', diz Debora Bloch sobre vilã de 'Vale Tudo'

Atriz mineira interpreta a personagem no remake do folhetim, que estreia dia 31 de março, na Globo

Por Renato Lombardi
Publicado em 19 de março de 2025 | 11:55

No elenco do remake de “Vale Tudo”, a atriz belo-horizontina Debora Bloch encara a missão de interpretar um dos personagens mais icônicos da teledramaturgia brasileira: a vilã Odete Roitman, que na primeira versão do folhetim, exibida em 1988, foi vivida por Beatriz Segall (1926-2018). Segundo a artista, a personagem não terá muitas mudanças no caráter e no comportamento em relação à Odete retratada no fim dos anos 1980. Debora garante que a vilã é uma pessoa preconceituosa, retrógrada e, “infelizmente, muito atual”.

“A Odete é o retrato de uma classe que despreza o Brasil, e, ao mesmo tempo, se beneficia dele, suga as suas riquezas. Eu acho que ela é uma personagem muito interessante e, infelizmente, muito atual. O Brasil mudou muito, mas a gente está vendo aí uma volta, não só no Brasil mas no mundo, de um pensamento conservador, de um pensamento preconceituoso, de um pensamento retrógrado”, explica Debora, que acredita que a vilã de “Vale Tudo” representa esses pensamentos.  

Para a atriz, essa característica de Odete já estava presente na versão de 1988 da novela e segue no remake. “Ela continua preconceituosa, classista, fala coisas horríveis como se fosse a coisa mais normal do mundo”, detalha. “Odete é uma mulher que é controladora, manipuladora, e ela vê na Maria de Fátima (Bella Campos) alguém que ela acha que vai controlar e manipular. Ela subestima, eu acho, a Maria de Fátima. Mas ela leva uma rasteira. Ela não controla tudo, graças a Deus”, observa Debora, que vai aparecer na novela só no capítulo 24, até então previsto para ir ao ar só no dia 26 de abril, dia em que a TV Globo completa 60 anos. 

Mesmo Odete sendo descrita como preconceituosa, Debora acredita que a relação da vilã com Maria de Fátima - que agora é vivida por uma atriz negra - não será pautada pelo racismo. “Pelo menos até onde a gente leu o roteiro, isso ainda não é uma questão. A Odete lida com todo mundo sobre esse ponto de vista dela, que ela é que sabe, que a vontade dela que é imperativa, e ela sempre age em função dos próprios interesses. Ela usa as pessoas, ela quer que as pessoas ajam também em função dos interesses dela ou em função daquilo que ela acha que é o certo. Porque ela é que sabe o que é o certo. Então ela usa a Maria de Fátima como instrumento para manipular o próprio filho, porque ela quer que o filho vá trabalhar na empresa em Paris; Odete vê na Maria de Fátima uma maneira de separar o Afonso (Humberto Carrão) da Solange (Alice Wegmann) e conseguir o que ela quer do filho”, observa.

Ao aceitar o convite para viver a icônica vilã de “Vale Tudo”, Debora conta que começou a assistir a versão original, mas parou logo em seguida. “Eu vi que aquilo não estava exatamente me ajudando, achei que era mais interessante me concentrar no texto, na nova versão, e encontrar a minha Odete, a minha maneira de fazer essa história, essa personagem. A novela virou um clássico, né? Sempre que se remonta um clássico, os atores que vão fazer e o diretor que vai dirigir vão dar a sua leitura daquele clássico, vão acrescentar o seu repertório, dar uma nova visão daquela história, de como contar aquela história”, diz. “Estou tentando fazer uma Odete que representa esse Brasil de hoje”, frisa.