ESTELIONATO

Golpe do empréstimo: grupo deixa aposentados no prejuízo no Barreiro

Suspeitos faziam "selfies" dos idosos, aproveitando para abrir contas bancárias e fazer empréstimos em nome deles; prejuízo chega a R$ 500 mil segundo vítimas

Por José Vítor Camilo
Publicado em 23 de maio de 2025 | 14:59

“A gente que sai do interior e vai para a cidade grande, costuma acreditar nas pessoas, pensa que são do bem. Mas, no fundo, não são”. A frase é de uma idosa de 65 anos que vive na região do Barreiro, em Belo Horizonte, e que, em março deste ano, viu sua vida virar de cabeça para baixo após uma pessoa procurá-la oferecendo cerca de R$ 6 mil para fazer a portabilidade de um empréstimo feito por ela no ado. 

O que seria um valor "extra", que poderia aliviar as contas da idosa, acabou se tornando um pesadelo, após a pessoa que ofereceu a quantia criar uma conta em diversos bancos digitais e fazer empréstimos consignados em nome dela, contraindo uma dívida que já ultraa os R$ 30 mil. Agora, a vítima luta para reverter a cobrança, que a deixou sem receber a maior parte de sua aposentadoria por tempo indeterminado. 

Assim como a idosa ouvida pela reportagem, pelo menos outros seis aposentados - de bairros da região do Barreiro e de Ibirité, na Grande BH - foram vítimas do golpe, que já teria causado um prejuízo de quase R$ 500 mil, segundo as vítimas. Formado por pelo menos duas mulheres e um homem, o grupo utilizaria uma empresa de crédito, localizada em uma das regiões mais movimentadas do Barreiro, para cometer os supostos estelionatos. 

A vítima conta que, no dia 26 de março, ela foi procurada por meio do aplicativo WhatsApp por uma mulher que seria funcionária de uma agência de crédito, após indicação da sogra de sua filha. "Essa pessoa me ofereceu para fazer a portabilidade de um empréstimo que eu tinha feito, alegando que eu receberia um 'troco' de R$ 6 mil. Tempo depois, disse que teria sido negado, mas que mandaria uma funcionária lá em casa para resolver", relata. 

Foi então que, na casa da mulher, a suposta funcionária da empresa de crédito utilizou o próprio celular para criar contas bancárias em nome da vítima. Para isso, ela pediu que a idosa tirasse várias "selfies", momento em que era feito o procedimento de reconhecimento facial, que seria utilizado como para abertura das contas em aplicativos de bancos digitais. 

"Tempos depois vi que foi feito um empréstimo pessoal e, ainda, que adiantaram duas parcelas do meu 13º, tudo sem minha autorização", lamenta a idosa. 

Noites sem dormir 

Ainda conforme a mulher, a dívida vem tirando o seu sono, já que, ados dois meses, até o momento não há qualquer previsão de se reverter a situação. "Tem dia que eu não durmo, eu acordo de noite e fico pensando nisso. Não penso em outra coisa, eu só penso nessa dívida. Não sei como vou fazer para pagar as prestações do meu apartamento. Foi uma coisa muito feia, porque eu confiei nela, deixei uma moça entrar na minha casa", disse a vítima. 

O TEMPO também teve o ao relato de uma outra pessoa que foi alvo dos criminosos, um aposentado de 65 anos. No caso dele, as "selfies" foram tiradas dentro da loja de crédito no Barreiro. O idoso conta que foi procurado por telefone com uma proposta de empréstimo, mas que respondeu que não tinha interesse por já ter outras dívidas e que só queria quitá-las.

"Essa pessoa, então, se ofereceu para me auxiliar no processo de quitação. No dia seguinte, fui novamente contatado por ela, que solicitou que eu realizasse uma selfie para concluir o processo de quitação. Ela me instruiu a comparecer na sede da empresa, onde colheram meus documentos e tiraram umas fotos", relatou. 

Porém, dias depois, ele acabou constando que um empréstimo consignado tinha sido feito em seu nome, com as parcelas do pagamento sendo debitadas diretamente na sua aposentadoria. "Eu não autorizei contratação nenhuma e, agora, estou com uma dívida ativa", lamentou.

Ao procurar os suspeitos questionando sobre uma notificação recebida sobre o empréstimo em seu INSS, com um link para "autorizar ou declinar" o empréstimo, os criminosos responderam rapidamente. "Não abre nada! Não clica em nada", diz uma das mensagens recebidas por O TEMPO

Crime é investigado pela Polícia Civil

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil confirmou que instaurou inquérito para elucidar o caso e tentar responsabilizar os suspeitos após parte das vítimas registrarem boletins de ocorrência e representarem contra os suspeitos na delegacia.

"Cumpre salientar, que as diligências para localizar as demais vítimas estão em andamento", concluiu a instituição policial.