Os casos de hepatite A mais que triplicaram em Belo Horizonte. Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Saúde, 95 pessoas foram diagnosticadas com a doença na capital entre janeiro e abril deste ano — um aumento de 265% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 26 casos. A enfermidade, conforme a pasta, tem acometido principalmente homens, na faixa etária entre 20 e 49 anos. A região Centro-Sul é a que apresenta maior incidência.
"É um cenário de surto, e ainda não sabemos o que pode ter motivado esse aumento. Essa crescente tem ocorrido de forma expressiva desde o fim de 2023. Isso tem mobilizado a secretaria, que já notificou o Governo do Estado e o Ministério da Saúde para investigar a causa", afirma o gerente de Vigilância Epidemiológica, Hoberdan Oliveira.
Em 2023, sete casos de hepatite A foram confirmados em Belo Horizonte. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, esse foi o último ano em que a quantidade de diagnósticos seguiu a média histórica da cidade. No ano ado, conforme a pasta, 174 casos foram confirmados — ou seja, os diagnósticos da doença saltaram 2.075% no intervalo de doze meses.
"Temos procurado identificar os fatores de risco, tanto os epidemiológicos quanto os sociais. Ainda não podemos apontar uma variável que justifique esse aumento. Trata-se de uma doença com registros em todas as regionais, porém com maior incidência na Centro-Sul", acrescenta Oliveira.
De acordo com o Ministério da Saúde, a hepatite A é caracterizada por uma inflamação no fígado, que pode resultar em complicações, especialmente em adultos. A transmissão pode ocorrer por meio do contato com alimentos ou água contaminados por fezes, principalmente em locais com baixos níveis de saneamento básico e higiene pessoal. A transmissão também pode ocorrer por contato pessoal próximo ou por relações sexuais com pessoas infectadas.
"Uma pessoa com a doença na forma aguda elimina o vírus pelas fezes e pode contaminar o ambiente — o banheiro, por exemplo. Se outra pessoa entra no local, toca em uma superfície contaminada e, depois, leva a mão à boca, ela pode se autoinfectar. As outras formas de contaminação são por alimentos ou água de procedência duvidosa, ou por contato próximo e relação sexual com alguém infectado", explica o médico Adelino de Melo Freire Junior, cooperado da Unimed-BH e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Ainda segundo o especialista, a doença não possui sintomas específicos. Ela pode se manifestar, inicialmente, como fadiga, mal-estar, febre e dores musculares, seguida de enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia. Os primeiros indícios costumam surgir entre 15 e 50 dias após a infecção e duram cerca de dois meses.
"São sintomas que podem ser confundidos com os de outras infecções virais, por isso é difícil obter um diagnóstico. Mas é uma doença que pode apresentar alguns sinais tardios, como a icterícia — quando a pele e a parte branca dos olhos ficam amareladas", destaca o médico.
A hepatite A, de acordo com o Ministério da Saúde, não possui tratamento específico. Segundo a pasta, o mais importante é evitar a automedicação para alívio dos sintomas, já que o uso de medicamentos não recomendados pode afetar o fígado, comprometendo o quadro clínico do paciente.
"É uma doença autolimitada, que segue um ciclo. A pessoa adoece, fica enferma e, depois, o quadro agudo começa a regredir. O tratamento não é feito com antivirais, por exemplo. Consiste mais em medidas de e, como soro e alimentação intravenosa, até que o paciente se recupere", explica.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a hospitalização desses pacientes é indicada apenas em casos de insuficiência hepática aguda. "Temos um percentual pequeno de pacientes que evoluem de forma muito grave, com necessidade de transplante, por exemplo", acrescenta o infectologista.
A vacinação contra a hepatite A faz parte do calendário infantil, com o esquema de uma dose aos 15 meses de idade, podendo ser utilizada a partir dos 12 meses até os 4 anos, 11 meses e 29 dias. Em abril, a imunização foi ampliada para os usuários da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). A vacina também ou a contemplar pessoas que tiveram contato com casos positivos da doença, mediante avaliação e contato prévio da Secretaria Municipal de Saúde.
"A vacinação é fundamental para conter o surto. Temos incentivado a imunização, além da orientação com cuidados de higiene", destaca o gerente de Vigilância Epidemiológica. A vacina está disponível para as crianças nos 153 centros de saúde da capital mineira. Para os usuários da PrEP e aqueles que tiveram contato com casos positivos da doença, o imunizante é aplicado em 15 centros de saúde específicos.
Os locais estão disponíveis no site da Prefeitura de Belo Horizonte.
Prevenção
O Ministério da Saúde lista os seguintes cuidados para a prevenção da doença:
Casos em 2024
Janeiro - 6
Fevereiro - 9
Março - 4
Abril - 7
Maio - 6
Casos em 2025
Janeiro - 24
Fevereiro - 24
Março - 32
Abril - 15
Maio - 5*
* Dados até o dia 18 de maio
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte